Enquanto o Brasil posa de grande nação lá fora, aqui dentro
a barbárie de um tempo que nos envergonha continua resistindo impávida. O
Brasil pode estar entre as nações que disputam o poderio econômico e comercial
do planeta. Mas não contará entre as nações realmente grandes enquanto
ocorrerem tantos atentados gratuitos e desprezíveis aos direitos humanos.
O Brasil jamais contará entre as nações que se orgulham de
biografias como as de Nelson Mandela, Martin Luther King, Tereza de Calcutá, Mahatma
Gandhi, Adolpho Pérez Esquivel ou Martin Niemöller, só para citar uns poucos
nomes.
Não é que não os tenhamos produzido em grande quantidade. O
Brasil tem gente assim, e não é pequena a lista de nomes. Lembremo-nos de
Hélder Câmara, Chico Mendes e Zilda Arns, só para citar três deles. Mas o
Brasil tem a frieza de passar por cima de gente que defende os pequenos com uma
naturalidade constrangedora.
Enquanto as grandes nações fazem de tudo para preservar
intacta a memória de seus heróis, o Brasil tem a estranha mania de olvidá-los. Duque
de Caxias, por exemplo, o falsificado herói milico da guerra do Paraguai, tem
ao menos uma rua com o seu nome em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes
desta desmiolada nação. Ao contrário, ainda preferem manter nomes de triste
memória, como Castello Branco ou Garrastazu Médici, para não trazer à
recordação os nomes de Câmara ou Mendes, gente que ficou do lado dos pobres e
espoliados cidadãos desta pátria amada.
Agora, isso realmente ultrapassa todos os limites da
decência e da moralidade quando atinge a dignidade pessoal de um
ancião que, no fim da sua vida de labutas heróicas, tem que fugir de casa para
não ser linchado. Falo do bispo emérito dom Pedro Casaldáliga, que, aos 84 anos
de idade, “teve que deixar sua casa em São Félix do Araguaia escoltado pela
Polícia Federal, tomar um avião, viajar mil quilômetros e se refugiar na casa
de um amigo que teve identidade e localização ocultas por razões de segurança,
por causa das ameaças de morte que vinha recebendo em função da defesa das
terras indígenas Xavante”, segundo a Agência ALC.
A produtora Minoria Absoluta, que trabalha em minissérie
focada no ex-bispo da Prelazia de São Felix, denunciou as agressões, que
cresceram muito depois que o governo brasileiro anunciou que vai tomar as
terras em Marâiwatsédé, no município de Alto Boa Vista, Mato Grosso, invadidas
por fazendeiros e devolvê-las aos Xavante, legítimos donos, informou o site Religión Digital.
“Sentimo-nos plenamente identificados com a defesa que desde
sempre o bispo Pedro e a Prelazia de São Félix fizeram da causa indígena”, diz
comunicado da Associação Aragauia com Casaldáliga. Ela pede que a comunidade
internacional vele pela segurança do bispo e pelos direitos dos índios Xavante.
Como sempre, a “grande nação”, que negocia com França e
Alemanha o futuro da economia europeia, tem que apelar para a comunidade
internacional para cuidar dos mínimos direitos humanos em seu território.
Constrangedor.
Em tempo, Dom Pedro é um herói brasileiro que nasceu na
Espanha, mas dedicou toda a sua vida em defesa dos mais humildes, que Jesus
chama de “pequeninos irmãos”, na região de São Félix do Araguaia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário