Líderes religiosos
em todo o mundo se engajam na conscientização sobre as mudanças climáticas. E
com sucesso, já que provavelmente 80% da população mundial tem, de uma maneira
ou outra, alguma religião.
“Ainda não tínhamos
consciência de que nós também sofremos quando o planeta sofre”, escreve o
ambientalista Fazlum Khaled, que criou a Fundação Islâmica para Ecologia e
Ciências Ambientais e que se engaja por um Islã verde. A entidade apoia a construção
de mesquitas ecologicamente sustentáveis, que usam energia renovável. Uma
coincidência a favor desta postura: o verde era a cor preferida do profeta
Maomé.
Os líderes
religiosos – em nosso caso, os pastores e as pastoras – têm uma grande força
nesta forma de conscientização ecológica a partir da fé. Levar a cor predileta
do profeta ao centro do sermão é uma decisão do líder religioso. É ele quem
folheia as sagradas escrituras e decide quais passagens enfatizar. “Os líderes
religiosos influenciam a forma como as pessoas veem o mundo e, com isso,
influem também nos seus comportamentos”, escrevem os antropólogos
norte-americanos James Peoples e Garrick Baley no livro “Humanity”.
Como eles orientam,
ajudam a regular a vida na comunidade, têm controle sobre vários rituais de
vida e de morte, podem influenciar também o comportamento dos fiéis. Depende,
portanto, também da influência deles transformar os fiéis em defensores do
ambiente. Isso aconteceu, por exemplo, em 2009, quando delegados de várias
igrejas e representantes religiosos de todo o mundo se reuniram no castelo
britânico de Windsor para a cúpula religiosa do clima "Many Heavens, One
Earth" (Muitos Céus, uma só Terra).
O objetivo não é
somente pregar do alto de um púlpito. Esses líderes religiosos podem ajudar
muito a implementar projetos concretos para proteger o meio-ambiente, em suas
próprias comunidades e na sociedade de entorno. E isso é possível em todas as
religiões.
Os budistas
chineses e taoístas querem limitar o número de pauzinhos de incenso para três
por pessoa e, assim, contribuir para a redução da poluição atmosférica. A
Igreja Anglicana e os sikhs querem instalar mais painéis solares nos telhados
dos templos. Líderes religiosos africanos se comprometeram, numa declaração em
2010, a falar frequentemente sobre as mudanças climáticas em seus sermões e
sensibilizar os fiéis a levarem uma vida mais amiga do ambiente.
Segundo uma
reportagem da Deutsche Welle, todas as semanas Mufti Mubajje, líder muçulmano
no Uganda, prega aos seus fiéis sobre a necessidade de proteger o
meio-ambiente: ele pede para as pessoas não cortarem árvores, para utilizarem
menos carvão e para plantarem uma árvore. Neste país do leste africano, muitos
cortam árvores para construir ou para queimar como lenha. Extensas áreas de
floresta já foram destruídas.
Na região de
Bunyoro, no oeste do Uganda, um bispo anglicano dá também a sua contribuição
para reflorestar o país. Ele só faz casamentos ou batizados se antes as pessoas
plantarem uma árvore. Projetos como este são também apoiados por organizações
internacionais, como o instituto cultural britânico, o British Council.
As igrejas alemãs
também se mobilizam contra as mudanças climáticas, como, por exemplo, com a
campanha "Mudança climática – Mudança de vida" de uma igreja
evangélica no leste da Alemanha. A igreja promove ações como o
"jejum" do automóvel ou sextas-feiras sem carne. "Em vez de
ficarmos à espera das decisões políticas, temos de ser nós próprios a
começar", explica à Deutsche Welle Annelie Hollmann, responsável pelo
projeto.
Megacampanhas de
igrejas nacionais, como a campanha da fraternidade da Igreja Católica e o tema
da IECLB do ano passado, privilegiam o debate aprofundado de questões
ambientais em todas as instâncias das igrejas, ajudando a refletir sobre a
seriedade e a urgência de atitudes sustentáveis.
Aos líderes
religiosos de todas as religiões fica o desafio de não se limitar a momentos
temáticos específicos para falar do assunto. Cuidar bem da criação deve ser uma
espécie de “fio verde” das nossas reflexões, em sermões, trabalhos em grupos,
estudos bíblicos, encontros e seminários de formação ou de retiro. Se a função
da teologia não é a de contextualizar a mensagem salvífica do Evangelho, então
não há porque subir ao púlpito em tempos de crescente agressão ambiental. Basta
crer e sufocar, em meio à poluição e ao lixo, esperando por novos céus e nova
terra, finalmente livres do sofrimento da destruição ambiental.
E hoje até mesmo os
pentecostais já estão percebendo que a teologia tem desafios muito além da
mensagem escatológica. Eles já percebem a importância da pregação com viés
ambiental. Talvez porque muitos deles estudaram em instituições como a
Faculdades EST... Assim sendo, estamos fazendo bem o nosso papel. Ainda vamos
refletir teologicamente com um pé bem firme no chão. Como já dizia Carl Barth,
em meados do século 20, com a Bíblia em uma das mãos e o jornal na outra.
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