Cerca de 28 estudantes indígenas Kaiowá e Guarani da aldeia Campestre foram retirados de uma sala de aula de uma escola estadual em Antônio João (MS), sob a alegação de que eram sujos e fedidos. A denúncia foi realizada pelo conselho da Aty Guasu, grande assembleia Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul, no último dia 12, no Ministério Público Federal do estado, em Dourados, acusando os envolvidos de crime de racismo.
A reportagem é de Ruy Sposati e publicada pelo portal do Cimi, 18-03-2013.
Atualmente, a comunidade de Campestre tem
acesso, no próprio tekoha (aldeia), ao ensino básico e fundamental.
Para cursar o ensino médio, os estudantes precisam sair da aldeia e
estudar em colégios no perímetro urbano do município.
Segundo a
denúncia, no dia 27 de fevereiro, o grupo de indígenas foi expulso da
sala de aula da turma do primeiro ano do ensino médio matutino da Escola
Estadual Pantaleão Coelho Xavier pelo diretor do colégio, pressionado
por professores e estudantes não-indígenas.
"Disseram pros nossos estudantes que eles não deveriam estudar ali", conta a liderança da aldeia, Joel Aquino.
"Disseram aos nossos jovens que se eles continuassem estudando o ano
todo, iam encher a sala e escola de terra, porque temos 'pés sujos'. E
'chulé', que as indígenas femininas tem aquele cheiro de mulher". O
diretor colocou o grupo do lado de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando aula para os não-indígenas. "Às vezes o professor ia lá fora passar alguma atividade para os indígenas", diz Joel.
Quando voltaram à aldeia, os estudantes relataram à comunidade o que havia acontecido. Joel conta
que ele próprio e uma outra liderança da aldeia, em momentos
diferentes, foram pessoalmente falar com o diretor da escola, que
confirmou ter expulsado os jovens da aula por considerar que eles não
eram higiênicos o suficiente.
"Depois disso, nossos estudantes
não querem mais frequentar a escola por motivo de vergonha, tamanha a
situação humilhante que passaram". Segundo Joel, apenas
três deles resolveram continuar frequentando as aulas na escola
estadual. "O resto está perdendo aula, decidiram que não vão [para a
escola]. Os três que estão indo disseram que o diretor decidiu que eles
podem voltar pra sala de aula, porque são poucos. Mas que se voltar a ir
todo mundo, eles não vão poder ficar na sala", conclui.
Além do MPF, os relatos também foram encaminhados à Fundação Nacional do Índio (Funai) e a representantes da Secretaria de Direitos Humanos.
(Fonte: Instituto Humanitas-Unisinos)
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