Detesto ir ao supermercado no tempo da Quaresma. Não, não
tem nada a ver com fraqueza, medo de não suportar tantas ofertas e quebrar o
jejum ou de atiçar o desejo de consumo. Eu não suporto aqueles “parreirais” de
chocolate. Todo supermercado tem um, nessa época. Parecem corredores poloneses –
aqueles nos quais se deve passar enquanto recebe tapas e chutes das pessoas que
formam o corredor. É mais ou menos isso que acontece comigo nessas “chicanes”
de chocolate. Como sou mais alto do que o forro de chocolate dessas cavernas de
cacau e açúcar, passo ali tomando petelecos de ovos de chocolate da entrada até
a saída.
Mas isso ainda é suportável. Verdadeiramente opressora é a
atitude de esfregar o produto na sua cara. Você não tem como escapar. É a
opressão absoluta. E eles querem fazer você acreditar que vale a pena comprar o
que te ofertam de modo tão obsceno. Porque aquela exibição explícita de
chocolate é um indisfarçável atentado ao pudor da oferta e da procura.
Acho que esse exibicionismo todo se dá porque não têm
coragem de confessar que cobram vinte ou trinta reais por um ovo de duzentos
gramas, sendo que, bem ao lado, você pode comprar a mesma quantia de chocolate em
barra, que custa quatro reais. Não é uma diferença absurda? Cadê o PROCON? Ah,
dizem os fabricantes, mas tem uma bela embalagem e até um brinquedo dentro!
Ainda assim, juntando uma folha de papel celofane (R$ 1,50), com 200 g de
chocolate (R$ 4,00) e um brinquedo que pode ser comprado no camelô (vamos optar
por um belo carrinho de Hot Wheels, por R$ 5,90), chegamos a R$ 11,40.
Vamos acrescentar aí 50 por cento para compensar a confusão dentro
da loja, por conta da época pré-pascal (o que por si só já representa um abuso de
poder econômico descarado e absurdo), e vamos chegar ao bom preço de R$ 17,00
por um ovo de Páscoa. E os outros R$ 13,00 (e em muitos casos bem mais de R$
20,00) são enquadrados em quê tipo de safadeza? Não é um acinte?
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