terça-feira, 2 de abril de 2013

Nathan Blanc pelo direito da objeção de consciência




A objeção de consciência, instrumento válido para recusar o serviço militar obrigatório, foi uma das bandeiras do pastor e pacifista Ricardo Wangen, meu professor na Faculdade de Teologia nos anos 1970. Ele era um jovem mariner norte-americano na época da segunda guerra e tornou-se pacifista quando esteve no Japão como soldado, alguns dias depois da explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. A experiência o levou à teologia e ao pastorado e, através dele, ao Brasil para atuar na missão, escolha que, por sua vez, o transformou em professor de Teologia Prática. A luta de Wangen no Brasil resultou na possibilidade da objeção de consciência (por motivos religiosos) também em nosso país, garantida na nossa Constituição, mas jamais regulamentada. Por isso, continua um exercício de risco recusar-se a servir o exército e tentar um serviço alternativo na esfera civil.

Na Alemanha, a objeção de consciência é uma possibilidade real. O jovem passa por uma entrevista que avalia os seus argumentos para recusar-se a servir na Bundeswehr. Aceitos os argumentos do jovem, ele pode cumprir um serviço alternativo em lugar do “serviço militar”, realizando um serviço civil, pelo qual ele atua em um hospital, asilo ou entidade social como auxiliar durante o mesmo período do serviço militar.

Em Israel, todos os jovens são obrigados ao serviço militar depois de terminar o Ensino Médio, os rapazes por três anos e as moças por dois anos. A objeção de consciência não é uma possibilidade. Tanto isso é assim que Nathan Blanc, israelense de 19 anos, foi preso pela oitava vez em quase cinco meses por ser contra o ingresso obrigatório nas Forças Armadas Israelenses. Ele reivindica o direito da objeção de consciência toda vez que vai para uma base militar perto de Tel-Aviv. Depois disso, o jovem é preso e sentenciado a entre 10 e 20 dias na Prisão Militar Número 6. Quando liberado, o ciclo recomeça. E assim acontece há 19 semanas, durante as quais ele já permaneceu 100 dias preso. Houve uma vez em que saiu em uma terça-feira e foi novamente detido na quinta da mesma semana.


A difícil decisão, segundo ele, de recusar o serviço militar se consolidou durante a Operação Chumbo Fundido em 2008, cujas três semanas na Faixa de Gaza deixaram cerca de 1.400 palestinos e 13 israelenses mortos. “O governo não está interessado em achar uma solução para a situação atual, mas apenas em preservá-la... Falamos sobre ações dissuasivas, matamos alguns terroristas, perdemos alguns civis de ambos os lados, e preparamos terreno para uma nova geração cheia de ódio. Nós, como cidadãos e seres humanos, temos o dever moral de recusar participar desse jogo cínico”, diz Nathan. Em uma guerra “que poderia ter terminado há muito tempo, mas em que os dois lados dão espaço para extremistas e fundamentalistas”, o Estado judeu mantém as pessoas “sob nosso controle” sem direitos democráticos e palestinos são sujeitos a “punição coletiva” para a ação de poucos.

O pastor Wangen iria sentir orgulho da luta de Nathan. E eu também sinto.

Penso que todos os exércitos são um imenso desperdício de dinheiro, que poderia ser aplicado em ações de paz e na educação para a paz.  O serviço militar obrigatório contribui para lotar o planeta de jovens treinados para matar, impregnados da cultura do Feindbild como modo de ver o outro e que compram armas pelo prazer de ouvir o estampido. Se metade da tecnologia empenhada em desenvolver novas armas fosse utilizada para fins pacíficos, certamente o mundo seria um lugar muito mais digno de se viver.

Um comentário:

  1. Sem dúvida. Fazendo guerra o mundo vai morrendo em todos os sentidos. E quem sempre perde mais é quem menos tem, é quem menos é nesta sociedade podre.
    Valeu, Clóvis.


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