A fé oprime? Ela
afeta o equilíbrio psicológico da pessoa? Transforma-a em um ser solitário,
isolado e cheio de complexos de culpa? Pode trazer como resultado noites de
insônia por conta de um absurdo sentimento de culpa e de inferioridade? Este é,
infelizmente, o resultado para muitos jovens e até crianças, submetidos a uma
doutrinação que se transforma em policiamento, que afeta seu comportamento ao
ponto de virar trauma, causando severos danos psicológicos. Em alguns casos, a
espiral descendente em que o indivíduo é lançado pode conduzi-lo às portas da
loucura.
Nesse caso, a fé
não é libertação, mas opressão. Torna-se uma prisão, das mais atrozes. Em mais
situações do que se admite, a interpretação fundamentalista do evangelho
transforma a vida do crente numa tortura permanente. Paradoxalmente, inverte a
Boa Nova central de Jesus Cristo e transfigura graça em lei, salvação em fogo do
inferno, libertação em implacável escravidão. Assim, em cada vez mais casos
estudados pela ciência a fé não liberta, mas deprime. Ou seja, vira depressão.
Marlene Winell (foto), americana de São Francisco, é
especialista em desenvolvimento humano e estudo da família. Ela é autora do Leaving the Fold: A Guide for Former Fundamentalists and Others Leaving
their Religion, um guia
sobre como se livrar das consequências de religião fundamentalista. Na obra,
ela cunhou o termo “Síndrome do Trauma Religioso”, para classificar os sintomas
de pacientes que sofrem de transtornos em decorrência da lavagem cerebral de religiões
fundamentalistas.
Ela sabe do que
está falando, pois é filha de missionários da Assembleia de Deus. A partir de
sua própria experiência de vida, há duas décadas ajuda pessoas a se recuperarem
das doenças psicológicas causadas por conta da fé. Os sintomas do STR incluem
ansiedade, depressão, dificuldades cognitivas e degradação do relacionamento
social. “Os ensinamentos e práticas religiosas, por vezes, causam danos graves
na saúde mental”, afirma a autora.
“No cristianismo
fundamentalista, o indivíduo é considerado depravado e tem necessidade de
salvação”, continua. “A mensagem central é ‘você é mau e merece morrer, porque
o salário do pecado é a morte. Já tive pacientes que, quando eram crianças, se
sentiam perturbados diante da imagem sanguinolenta de Jesus pagando pelos
pecados deles”, exemplifica. Você pode ler a matéria sobre o livro de Marlene Winell
aqui.
Eu conheci várias pessoas assim
na vida. Pessoas solitárias e depressivas, que revivem todo o sofrimento do
monge Martim Lutero na própria carne... O resultado é exatamente o que Marlene
Winell chama de Síndrome do Trauma Religioso. Lembro, por exemplo, de uma
situação em que a filha de um missionário foi impedida de chorar a morte da própria
mãe porque “um cristão se apega à esperança da ressurreição”.
Eu próprio passei maus bocados em
minha adolescência e juventude, quando o resultado prático de uma intensa
participação num grupo ECO (Estudo, Comunhão e Oração) fazia a minha cabeça
fervilhar de culpa.
Nesse contexto, lembro com muito
carinho do professor Bertoldo Weber. O Webão me libertou! Durante as aulas de
grego, no primeiro ano de Teologia, ele abriu o meu coração para a Graça,
libertando-me da STR em que eu também ameaçava mergulhar. Tem muita gente que
está precisando de um Webão também. Oro a Deus todos os dias para que o seu
evangelho permaneça sendo graça e não seja transformado em lei.
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