Ana Schultz aprendeu aos 12 anos e, aos 84, continua tocando trombone.
Numa época bem diferente da que conhecemos hoje, a pequena
Ana Schultz, aos 12 anos, aprende a tocar trombone, sozinha, escondida dos
pais. Anos depois a menina vira adolescente, se casa na juventude... Ensina ao
marido. Os filhos nascem, crescem... O tempo passa. Setenta e dois anos depois,
aos 84 anos, Ana Schultz se torna a trombonista mais antiga em atividade do Espírito Santo. Ela mora
no pequeno distrito de Garrafão, zona rural, distante 35 quilômetros da sede do
município de Santa Maria de Jetibá, na região serrana do Espírito Santo.
O G1 pegou a
estrada para conhecer essa história. Um exemplo para muitos jovens da região.
"Muita gente se inspira em dona Ana para começar a tocar um instrumento
musical na comunidade", conta o maestro do município, Renato Strelow, 23
anos. Dona Ana não fala português, somente o pomerano, língua dos imigrantes
que colonizaram a região. Com a ajuda de um intérprete ela disse que está muito
feliz de continuar tocando trombone até hoje. "Enquanto Deus me der
forças, vou continuar tocando trombone", diz a aposentada.
Santa Maria de Jetibá tem uma das maiores comunidades
luteranas do Espírito Santo. A religião e a música são as marcas da tradição
pomerana. "Os primeiros imigrantes quando chegaram aqui trouxeram a
bíblia, o catecismo e o hinário. Os grupos de metais estão presentes nas
principais comemorações da cultura pomerana", relata o pastor da
comunidade de Jequitibá, Marcos Vollbrecht.
Por conta dessa tradição, hoje, o município tem o maior
grupo de trombonistas do Estado. "Os trombonistas estão presentes em todas
as comunidades do município. Ao todo, são mais de mil instrumentistas na
cidade. Um recorde para o Espírito Santo e, talvez, para o país", revela o
secretário municipal de cultura de Santa Maria de Jetibá, Leandro da Silva.
Os grupos ensaiam todas
as semanas. Entre os músicos, encontramos famílias inteiras de
trombonistas. "Na minha família quase todo mundo toca trombone: eu, meus
quatro filhos, meu pai tocava e minhas irmãs também tocam" diz o
agricultor Valdeci Wolfgrann, 41.
O aposentado
Flortélio Krüger, 66, conta que aprendeu a tocar trombone ainda na juventude.
"Eu aprendi a tocar com um senhor que morava perto da minha casa. Ele
tinha um pequeno comércio. A primeira vez que ouvi o som do instrumento fiquei
impressionado. Toco trombone até hoje. O trombone é a marca do nosso município.
Não podemos deixar essa tradição morrer", finaliza.
A música tem um
outro papel na cidade. "O problema do alcoolismo é muito presente na nossa
região. E com a música, com o projeto dos trombonistas, estamos conseguimos
afastar os jovens do álcool e das drogas. A música tem uma importância muito
grande em nosso município", completa o secretário de Cultura, Leandro de
Jesus.
(Reportagem do G1 do dia 14 de julho. Obrigado ao Norival por me enviar o link)
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