O Dia Mundial de Oração, organizado ecumenicamente por mulheres
de todo o mundo para ser celebrado na primeira sexta-feira de cada ano, é um
evento muito especial. As mulheres ligadas à Ordem Auxiliadora de Senhoras
Evangélicas-OASE, dentro da IECLB, envolvem-se com entusiasmo neste projeto
global, preparando celebrações e eventos muito significativos, sempre com
destaque para a temática de uma nação, que prepara o material e convida para a
oração.
No ano de 2013, o Dia Mundial de Oração deve acontecer na
sexta-feira dia 1º de março. A celebração está sendo preparada pelas mulheres
da França, conforme um cronograma estabelecido por um Comitê Internacional do
DMO, que esteve reunido de 10 a 17 de junho em Nova Iorque. O comitê ratificou a
escolha temática das mulheres francesas, que resolveram tematizar a xenofobia e
pedir orações para que este mal crescente na Europa – especialmente na França –
possa ser combatido a partir do evangelho.
A temática proposta pelas mulheres francesas tem a
formulação “Fui estrangeiro e me acolhestes”, uma das formulações de Jesus na
lista de critérios para o “Grande Julgamento”, em Mateus 25.31-46. Nesse belo
texto, um verdadeiro desafio diaconal e uma cartilha de cidadania a partir da
fé cristã, Jesus diz que a acolhida dos mais pequenos entre os seres humanos é
equivalente a acolher o próprio mestre. Jesus estabelece seis situações
incontornáveis de acolhimento do próximo: a fome, a sede, a condição de
estrangeiro, da nudez como ausência total de posses, da doença e da prisão.
Para as mulheres francesas não há condição mais presente e
dramática do que a dos estrangeiros em território francês. Várias iniciativas
governamentais tem dado0 cada vez mais espaço a uma legislação intolerante com
ciganos, muçulmanos, africanos e outros estrangeiros que buscam abrigo em solo
francês na tentativa de conquistar uma vida mais digna. Uma vez na França, eles
são tratados como “indesejados” e empurrados para a periferia da sociedade.
Essa crescente xenofobia é praticada na França com cada vez maior entusiasmo e
corre sério risco de virar programa de governo num futuro previsível, numa
nação em que os votos para o partido de ultradireita da Frente Nacional, de
Jean-Marie Le Pen e de sua filha, vem amealhando uma fatia maior do eleitorado
francês a cada nova eleição.
As mulheres da França abraçam uma causa gigante com esta
temática. E ela não diz respeito somente aos franceses. A xenofobia cresce em
toda a Europa. A xenofobia é uma lamentável causa de guerras civis em diversas
partes do planeta. A xenofobia é o alimento que dá forças ao fundamentalismo de
qualquer origem, que está presente nos homens-bomba muçulmanos e nos atiradores
em cinemas, shoppings e escolas em diversas partes do mundo. A xenofobia dá
vida a monstros de carne e osso como o norueguês Anders Breivik.
Mas a xenofobia também está entre nós. Ela é lenha na
fogueira do ódio contra os nordestinos, da intolerância religiosa de toda
espécie, da nova onda de intolerância contra os miseráveis bolivianos em busca
de trabalho em São Paulo ou dos haitianos no Acre.
Receber estrangeiros é um exercício supremo de aceitação do
outro como ele é, com a sua religião, a sua cultura, o seu modo de ser e de se
trajar, a sua linguagem e gestual, seus costumes e tradições. Parabéns às
mulheres da França pela coragem em abordar um tema tão urgente. Minha oração
inicial é no sentido de que se vá realmente a fundo e se ponha o dedo na
ferida, no sentido do desafio de Jesus em Mateus 25. E minha oração também vai
no sentido de que as mulheres da OASE não relativizem a temática, dizendo que o
problema se concentra na Europa. A xenofobia é uma praga bem viva e presente
entre nós, em nossas comunidades, no seio da IECLB, disfarçada de mil modos e,
muitas vezes, escondida atrás das melhores intenções, dos mais belos trajes e
até dos mais enlevados projetos comunitários.
Xenofobia é um tema candente aqui na Europa, mas como bem escreves também no Brasil e na América Latina. Como acolher as pessoas estranhas, diferentes, estrangeiras? As mulheres
ResponderExcluircristas francesas levantam um tema que nos envolve também em nossas comunidades luteranas aí no Sul do Brasil. Por exemplo, trabalhamos em Jaraguá do Sul onde tudo de errado que acontecia se dava culpa aos migrantes do Paraná, que eram muitos na regiao norte de Santa Catarina: pessoas pobres e com uma cor de pele mais escura do que os da regiao. Fui professora de um curso a distância, organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina, para professores e professoras da rede estadual do ensino, em 2009, na cidade de Blumenau... onde se dizia que as pessoas vindas do interior do Paraná eram VIPs.
A Xenofobia está presente em nosso cotidiano e mais próxima do que nós imaginamos... Um fato em nossa vida pastoral em Jaraguá foi a luta para conseguir um espacao para um grupo de AA se reunir na comunidade. Foram necessárias longas horas de conversa com o presidente da comunidade...pois ele dizia que a maioria do pessoal que frequentava o AA era de pele escura...até que duas famílias membras da Igreja se revelaram e dizeram que também eram participantes ativas do AA.
O preconceito, o não conhecer a outra pessoa, a falta de disposicao para abrir-se ao/a diferente trava sem dúvida a missao da Igreja de Jesus Cristo.
Obrigado por levantar a discussao de um assunto tao importante...Xenofobia também vivemos aqui na Alemanha, mas isto é assunto para um outro dia...
Claudete Beise Ulrich