A circuncisão está para o judaísmo no mesmo patamar do
batismo para os cristãos. É igual a um sacramento, instituído por Javé como
sinal do pacto e de distinção do povo eleito em relação aos outros povos. No
oitavo dia de sua vida, todo menino judeu é submetido à circuncisão. Jesus, por
ser judeu, também foi circuncidado (Lucas 2.21).
A circuncisão é um procedimento litúrgico de caráter cirúrgico,
que consiste na retirada do prepúcio – a pele que cobre a glande do órgão genital
masculino. O termo circuncisão deriva
da junção de duas palavras
latinas,
circum e cisióne, e significa literalmente cortar ao redor.
A circuncisão é praticada há mais de cinco mil anos. Além dos judeus, a circuncisão também é
praticada pelo islã e por recomendação médica por razões de higiene, o que faz
com que cerca de um terço de todos os homens do mundo seja circuncidado.
Do ponto de vista religioso, o rito é sinal da aliança entre Deus e seu povo eleito, um
pacto marcado com a entrega de uma aliança de carne (anel prepucial), marcando
o ato de fé
no próprio corpo. Na antiguidade, o
descumprimento desse rito era passível de punição com a morte (Levítico 12.2s)
e era realizado no oitavo dia, mesmo que este caísse num sábado.
Só que agora, na Alemanha, não é mais qualquer rabino ou
grupo familiar que pode realizar o procedimento. Tem que ser um médico ou
alguém que tenha autorização legal para isso. A regulamentação, que a princípio
tem caráter meramente sanitário, jogou o cerimonial religioso dentro das
sinagogas na clandestinidade. Rabino que realizar o procedimento sem
habilitação/supervisão médica ou autorização legal está cometendo um crime.
Vários rabinos já foram indiciados na Alemanha por realizar o ato de forma
clandestina.
Além disso – no avanço dos direitos civis sobre as tradições
religiosas, como o uso da burca muçulmana, por exemplo –, a circuncisão está
sendo classificada como mutilação de menores, justamente por ser praticada em
crianças indefesas, causando dor e marcando seus corpos para sempre. Os
defensores do combate a tais ritos consideram bizarro o direito de decisão das
religiões pela mutilação de incapazes em nome da fé. Segundo eles, a
circuncisão viola três princípios constitucionais alemães: os direitos à
integridade física, à liberdade religiosa e ao cuidado parental.
O resultado de tudo isso é fácil de contabilizar. Está
criada a maior polêmica em relação aos judeus na Alemanha desde o holocausto.
O problema maior é que a lei tem evidente caráter xenófobo,
uma vez que a circuncisão também é praticada pelos muçulmanos, cuja comunidade
vem avançando cada vez mais na defesa de mudanças na lei alemã em respeito a
seus preceitos. Uma de suas reivindicações polêmicas é pelo direito de ensino
religioso islâmico nas escolas alemãs.
Para o bispo luterano Nikolaus Schneider, presidente do
Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD, sigla em alemão), a proibição
da circuncisão é uma agressão à identidade judaica. Segundo ele, uma prática
religiosa milenar não pode ser criminalizada.
O Conselho Alemão de Ética recomenda que a circuncisão seja
permitida, desde que realizada conforme procedimentos sanitários e médicos
regulados por autoridades de saúde, com estrita autorização dos pais, cuidados
anestésicos adequados e de modo profissional. Os conselheiros também pedem aos
legisladores para incluir o direito de veto à criança que não quiser ser circuncidada.
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