quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Proibição da circuncisão irrita judeus na Alemanha



A circuncisão está para o judaísmo no mesmo patamar do batismo para os cristãos. É igual a um sacramento, instituído por Javé como sinal do pacto e de distinção do povo eleito em relação aos outros povos. No oitavo dia de sua vida, todo menino judeu é submetido à circuncisão. Jesus, por ser judeu, também foi circuncidado (Lucas 2.21).

A circuncisão é um procedimento litúrgico de caráter cirúrgico, que consiste na retirada do prepúcio – a pele que cobre a glande do órgão genital masculino.  O termo circuncisão deriva da junção de duas palavras latinas, circum e cisióne, e significa literalmente cortar ao redor.

A circuncisão é praticada há mais de cinco mil anos.  Além dos judeus, a circuncisão também é praticada pelo islã e por recomendação médica por razões de higiene, o que faz com que cerca de um terço de todos os homens do mundo seja circuncidado.

Do ponto de vista religioso, o rito é sinal da aliança entre Deus e seu povo eleito, um pacto marcado com a entrega de uma aliança de carne (anel prepucial), marcando o ato de no próprio corpo.  Na antiguidade, o descumprimento desse rito era passível de punição com a morte (Levítico 12.2s) e era realizado no oitavo dia, mesmo que este caísse num sábado.

Só que agora, na Alemanha, não é mais qualquer rabino ou grupo familiar que pode realizar o procedimento. Tem que ser um médico ou alguém que tenha autorização legal para isso. A regulamentação, que a princípio tem caráter meramente sanitário, jogou o cerimonial religioso dentro das sinagogas na clandestinidade. Rabino que realizar o procedimento sem habilitação/supervisão médica ou autorização legal está cometendo um crime. Vários rabinos já foram indiciados na Alemanha por realizar o ato de forma clandestina.

Além disso – no avanço dos direitos civis sobre as tradições religiosas, como o uso da burca muçulmana, por exemplo –, a circuncisão está sendo classificada como mutilação de menores, justamente por ser praticada em crianças indefesas, causando dor e marcando seus corpos para sempre. Os defensores do combate a tais ritos consideram bizarro o direito de decisão das religiões pela mutilação de incapazes em nome da fé. Segundo eles, a circuncisão viola três princípios constitucionais alemães: os direitos à integridade física, à liberdade religiosa e ao cuidado parental.

O resultado de tudo isso é fácil de contabilizar. Está criada a maior polêmica em relação aos judeus na Alemanha desde o holocausto.

O problema maior é que a lei tem evidente caráter xenófobo, uma vez que a circuncisão também é praticada pelos muçulmanos, cuja comunidade vem avançando cada vez mais na defesa de mudanças na lei alemã em respeito a seus preceitos. Uma de suas reivindicações polêmicas é pelo direito de ensino religioso islâmico nas escolas alemãs.

Para o bispo luterano Nikolaus Schneider, presidente do Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD, sigla em alemão), a proibição da circuncisão é uma agressão à identidade judaica. Segundo ele, uma prática religiosa milenar não pode ser criminalizada.

O Conselho Alemão de Ética recomenda que a circuncisão seja permitida, desde que realizada conforme procedimentos sanitários e médicos regulados por autoridades de saúde, com estrita autorização dos pais, cuidados anestésicos adequados e de modo profissional. Os conselheiros também pedem aos legisladores para incluir o direito de veto à criança que não quiser ser circuncidada.

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