segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Um culto que enaltece o erotismo


 O pastor Schmidt e as mulheres do grupo de idosos abriram o culto com uma dança litúrgica.

“Bem-vindos à vinícola do amor”, diz o pastor Ralf Schmidt na abertura do culto especial que celebrou em Mainz-Kastel, na Alemanha, no último domingo. A igreja estava excepcionalmente abarrotada de gente. Muitos fiéis, mas ainda mais curiosos. Jornalistas e fotógrafos queriam registrar cada palavra, cada imagem daquele culto. “Vamos celebrar a erótica da vida”, anuncia o pastor, ao templo lotado da Igreja do Salvador, enquanto uma voluntária espalha pétalas de rosas pelo corredor da igreja, durante o prelúdio.

O clima era “excitante”, sem trocadilhos.  O pastor Schmidt (47 anos), assume o comando da celebração e anuncia uma dança litúrgica, protagonizada por senhoras do grupo de idosos, que dançam de mãos dadas e acenam lenços coloridos durante a dança, convidando a comunidade a participar do momento em que todos dão passos à esquerda e à direita em volta do altar.

O tumulto já iniciara dias antes, quando o telefone da casa pastoral não parava de tocar. Os jornalistas tinham mil perguntas e os membros conservadores da comunidade queriam manifestar a sua indignação pela ousadia do pastor. Schmidt se defende. Ele só queria um culto sobre o amor. A princípio.

Mas, como na Alemanha todo pastor é também um professor de Ensino Religioso nas escolas, ele apresentou o projeto aos seus alunos. Eles acharam tudo muito bonito, mas frio e meio sem graça. Um tédio. E os alunos começaram a falar em “foder” e “transar”, querendo saber se a Bíblia também diz alguma coisa sobre erotismo.  Mal sabiam eles sobre o livro de Cantares... E o pastor decidiu apimentar o tema e promover um culto bem diferente. Por segurança, ele impôs idade mínima de 16 anos para participar da celebração.

Durante a prédica, o pastor vai logo quebrando tabus: “O desejo não é coisa do diabo. Foi Deus quem o plantou em nós”. E em seguida, oh, santo Deus, ele dá nomes próprios às coisas do amor: “As minhas nádegas, as minhas mãos, a minha língua, o meu pênis, o meu lóbulo da orelha são zonas erógenas. Por isso, vamos curtir as coisas boas que o jardim dos prazeres de Deus nos proporciona, já que não vivemos mais no paraíso”.

Nenhum raio vem do céu para fulminar o atrevido clérico, nem se ouve qualquer risadinha entre os fiéis, nos bancos da igreja. Todos estão cem por cento ligados na prédica. E o pastor não deixa por menos: “Na vida de muitos crentes as orações são tão ressequidas e desérticas quanto a vida amorosa”. Todos prestam atenção como poucas vezes antes, diz o pastor depois do culto.

Ele menciona um antigo programa da TV, que se chamava “Santo Deus, pastor!”, que levou ao ar uma cena em que o pastor faz sexo com a esposa e, em seguida, ruma para um sepultamento, onde a sua reflexão é comovente e profundamente consoladora. “Talvez os nossos pastores e as nossas pastoras deviam ir mais vezes para a cama com os seus amados, para que suas palavras se tornem mais vivas, poderosas e fortes”, prega o pastor Schmidt.

Para o pastor, o importante nesse culto era buscar o debate mais solto de alguns temas considerados tabu entre os cristãos. Mas, para alguns, incomodava mais um pastor usar a palavra pênis durante o sermão do que a sua sincera busca por uma sexualidade santificada entre pessoas que se amam e que podem erotizar sua relação sem medo de estarem agredindo a Deus ou desobedecendo algum mandamento.

A ousadia do pastor Schmidt trouxe à minha recordação o meu tempo de estudante, em que um professor muito querido dizia aos estudantes de Teologia que o sexo é algo bom e que, em sua opinião, era a única coisa boa que Adão e Eva tinham levado junto quando foram expulsos do paraíso.

Eu concordo com o meu professor e concordo com o pastor Schmidt. Pena que um culto assim provoque tanto alvoroço na imprensa, na sociedade e até na própria comunidade. Talvez porque o pecado capital sempre tenha sido associado a erotismo e prazer sexual. Lembro, também, que quando casei com a minha esposa, há mais de 34 anos, minha mãe nos deu um velho livro de “educação” sexual com tabelas para engravidar e evitar gravidez e outras “instruções” apropriadas para o início da vida na mesma cama. E, surpreendentemente, uma das “dicas” importantes desta obra, que a minha falecida mãe seguiu por todo o seu casamento, ensinava que, para gerar um filho, não era recomendável ter muito prazer durante a relação sexual...

Mas não é nada disso. Leia Cantares, se você duvida das minhas palavras. A Bíblia é a favor do erotismo. Que você tenha muito prazer e que Deus abençoe ricamente cada transa com quem você ama...

Um comentário:

  1. Gostei deste pastor Scmidt!
    um jantar dançante ao final do culto não seria uma má idéia...
    abraço!

    ResponderExcluir

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...