Até o símbolo do Aurora Dourada faz referência explícita à suástica nazista
Para o historiador Laurence Rees, especialista em segunda
guerra mundial – um tema sobre o qual escreveu seis livros –, a história
costuma dar recados muito claros de que alguns fatos podem se repetir. Segundo
ele, Adolf Hitler não era nenhuma unanimidade na Alemanha, no início da
carreira. A fome, o desemprego e a insegurança pós-guerra, e uma taxa de
desemprego de 30%, fizeram aparecer um inesperado “carisma” num político
medíocre, que só falava de coisas que todos queriam ouvir.
Segundo Rees, “antes da Primeira Guerra Mundial, (Hitler) era
um joão-ninguém, um sujeito estranho, que não conseguia formar relacionamentos
íntimos, incapaz de participar de uma discussão intelectual e cheio de raiva e
preconceito”. O seu discurso começou a ser ouvido, porque “o ódio que sentia
ecoava os sentimentos de milhares de alemães que, sentindo-se humilhados pelos
termos do Tratado de Versalhes, buscavam um bode expiatório”.
Em meio à maior crise econômica da história da Alemanha, em
que se tinha que ir comprar pão na padaria com um carrinho de mão cheio de
notas de marcos, “Hitler disse a milhões de alemães que eles eram arianos e,
portanto, ‘especiais’. Que eram racialmente um povo melhor do que os outros,
algo que ajudou a cimentar a conexão carismática entre o líder e os liderados”.
Justamente aí está a lição e a seta apontando para riscos
que a história nos dá, afirma Rees. “Em uma crise econômica, milhões de pessoas
decidiram se voltar para um líder pouco convencional que, na opinião deles,
tinha ‘carisma’. Um líder que se conectava com seus medos, esperanças e desejo
latente de culpar os outros pela situação difícil que viviam. O resultado disso
foi desastroso para milhões de pessoas. Quando Hitler assumiu o poder, o índice
de desemprego na Alemanha era 30%”, relembra o historiador. “Hoje, na Grécia,
ele é 25,1% e está subindo”, compara Rees.
A chanceler da Alemanha Angela Merkel foi saudada em Atenas com
suásticas. É pura ironia e miopia histórica, porque é na Grécia que a crise
econômica promove a ascensão repentina de um movimento político que se gaba de
sua intolerância e desejo de perseguir minorias. É o Aurora Dourada, um movimento liderado por um homem que nega a
existência das câmaras de gás em Auschwitz. “Pode existir um aviso mais sério
do que esse?”, pergunta Rees. (Fonte: Estadão).
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