segunda-feira, 4 de abril de 2011

O sonho de King não se realizou



No dia 4 de abril de 1968 Martin Luther King é assassinado a bala em Memphis (EUA). O pastor batista, que fora laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1964 por seu engajamento pela igualdade de direitos de brancos e negros nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960, morria os 39 anos de idade.

O país em que o eloquente pastor negro travou a sua luta se considerava modelo de democracia e liberdade, ao mesmo tempo em que seus habitantes eram classificados de acordo com a raça. Os negros eram discriminados na política, na economia e no aspecto social.

Eles não podiam votar, eram chamados pejorativamente de "nigger" e "boy", seu trabalho não era devidamente remunerado, e as agressões dos brancos eram rotina. Até que, em dezembro de 1955, em Montgomery, a costureira negra de 52 anos Rosa Parks resolveu não ceder seu lugar num ônibus para um passageiro branco. Parks foi presa e, em decorrência, Martin Luther King, pastor da cidade, conclamou um boicote dos negros aos ônibus. Em um ano, tornou-se tão conhecido no país que assumiu a liderança do movimento negro norte-americano.

O boicote aos ônibus foi apenas o começo. Seguiram-se as marchas de protesto de King e milhares de defensores dos direitos civis em todo o país, acompanhadas de violações conscientes da legislação racista. Usavam, por exemplo, as salas de espera e os restaurantes reservados aos brancos. Nem a violenta repressão policial enfraqueceu o movimento.

“Temos que levar nossa luta adiante, com dignidade e disciplina. Não podemos permitir que nosso protesto degenere em violência física”, advertia o pastor batista, não se deixando provocar pela ordem pública. Era a lição da não-violência ativa, que ele havia aprendido de Gandhi.

Um dia antes de sua morte, King pronunciou o célebre discurso “I have a dream”, em que anunciava ter avistado a terra prometida. “Talvez eu não consiga chegar com vocês até lá, mas quero que saibam que nosso povo vai atingi-la”, declarou ele, como se previsse a proximidade da morte. Seu assassinato provocou consternação internacional. A sua luta foi vitoriosa e a segregação racial foi abolida por lei nos EUA.

Mas a discriminação das pessoas pela cor de sua pela continua, em pleno século 21. Não só nas ridículas piadas de negros que se conta sem o menor constrangimento como forma de diversão numa roda de amigos, mas em atitudes reais, como a banana aos pés de Neymar, num recente amistoso na Escócia. Entretanto, o Neymar é um cara de muita sorte, porque está milionário por causa de sua habilidade com a bola.

Enquanto isso, milhões de pessoas, no Brasil e no Mundo, são as mais pobres só por causa da cor de sua pele. Milhões de pessoas recebem menos por seu trabalho só por causa da cor de sua pele. As cadeias estão lotadas de pessoas que sofrem todo o rigor da lei e até injustas condenações somente por causa da cor de sua pele. A própria Mama África, o continente miserável e esquecido pela humanidade rica, é sistematicamente vítima por causa da cor da pele da maioria de seus habitantes.

Só por causa dessa pequena lista óbvia, a luta de Martin Luther King não terminou e o seu sonho não se realizou. Mesmo nos EUA a discriminação racial é uma realidade, apesar da lei. Aqui no Brasil, o país que foi construído em grande parte por mão-de-obra escrava, negra, africana, continua a existir uma vergonhosa realidade de discriminação e preconceito, apesar de nos vangloriarmos de ser uma nação em que não há racismo. Ele não está presente na Costituição e provoca indignação quando se manifesta publicamente. Mas o racismo, na vida real, está em cada esquina do nosso país, de modo tão escancarado que só não enxerga quem não quer. Por tudo isso, o discurso de Martin Luther King deve ser lembrado todos os anos, sempre de novo, até que também entre nós a terra prometida possa ser vista.

Um comentário:

  1. Parabéns....Li e repassei o texto que está muito bem escrito e com uma visão concretizada sobre a realidade dos novos tempos.

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