Rev. Marcial Miguel Hernández, presidente do CIC de Cuba
Eis uma notícia que vai muito além dos velhos estereótipos preconceituosos que ainda temos em nossas mentes em relação à velha divisão do mundo entre esquerda e direita, conservador e progressista, democrático e comunista, ateu e crente. No sábado 28 de maio, o Conselho de Igrejas de Cuba-CIC, na ilha de Fidel Castro, fez uma grande festa para comemorar os seus 70 anos de existência.
Já só por isso, quebra o nosso paradigma de que em Cuba a religião é perseguida. Como assim, 70 anos? Ser o mais antigo conselho ecumênico do mundo, mais velho até do que o Conselho Mundial de Igrejas, não é pouca coisa. A revolução cubana – o famigerado regime de Fidel Castro –, comunista e ditatorial, como se diz, não acabou de completar 52 anos de existência, uma vez que se instalou no ano de 1959? Então essa entidade continuou existindo ao longo de todo este tempo, sem que o Fidel metesse o bedelho? Surpreende, não?
Mas as surpresas dessa celebração não terminam por aí. A festa foi em grande estilo, na maior catedral de Havana, com ampla cobertura e divulgação na imprensa oficial e transmissão pela TV estatal, que exibiu um amplo documentário sobre a história do ecumenismo em Cuba. O diário Juventude Rebelde dedicou a capa e duas páginas internas para entrevistas com personalidades do ecumenismo (veja a matéria completa: http://www.juventudrebelde.cu/cuba/2011-05-28/dias-en-pos-de-la-unidad-y-la-nacion-fotos/). Agora imagino eu que, como dizem os gaúchos, “cai o facão da mão” de tantos críticos contumazes do famigerado regime de comedores de criancinhas, que segundo eles teria se instalado em Cuba. Então a igreja teve ampla liberdade e até apoio oficial durante todo este tempo? Pois é... Pasmem e calem-se.
Mas ainda tem mais. E o que vem é “prá acabar”! O presidente Raúl Castro Ruz participou da cerimônia dos festejos dos 70 anos do CIC na catedral de Havana! Ele foi à missa! E tem mais, além de pedir “as bênçãos de Deus para a nação, os governantes, o presidente e seus familiares”, o presidente do CIC, pastor Marcial Miguel Hernández, entregou uma placa de reconhecimento ao presidente cubano “pelo apoio dado ao desenvolvimento do ecumenismo na ilha”.
Para tirar o chão dos pés dos que combatem o difamado “comunismo” como coisa do demônio e contra a Bíblia, ainda tem a pá de cal. O pastor pentecostal que preside o SIC falou do significativo momento que vive o país “no aperfeiçoamento do seu modelo socialista”, concluindo que “essas transformações foram a vontade de Deus para esta hora”. Raúl Castro agradeceu e disse “Dou graças, porque precisamos, hoje mais do que nunca, de todas essas bênçãos”.
Em nome do governo falou a bacharel Caridad Diego Bello, chefe do Escritório de Atendimento de Assuntos Religiosos do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (ops!, então tem até um departamento para assuntos religiosos?). “Seguiremos contando com vocês no labor de ajuda e respeito ao próximo, no atendimento da unidade familiar, para cada homem e mulher sejam melhores cidadãos, tornando realidade o expressado por Martí: ‘Só as virtudes produzem nos povos um bem-estar constante e sério’”.
“Nosso convite é que sejamos expressão visível dessa paz, sinal do Reino, pela qual trabalhamos e digo que não deixemos de lutar, desde nossa missão de fé, contra os espíritos do individualismo, racismo, elitismo e de classe que subsistem em nossas igrejas”, disse o presidente do CIC. A festa cubana de fé e ecumenismo teve a participação também do moderador do Conselho Mundial de Igrejas, o ex-pastor presidente da IECLB Walter Altmann, e do secretário-geral do CMI, pastor Olav Tveit. (As informações sobre o evento são da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC)
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