Na praça central de uma aldeia havia um poço com água de excelente qualidade. Não era um poço grande, mas tinha água boa e abundante para todos. A vida na aldeia girava em torno do poço. Mulheres, crianças, idosos e homens passavam várias vezes ao dia pelo poço. Ali todos se encontravam e, enquanto esperavam sua vez de pegar água, conversavam animadamente.
A vida da aldeia acontecia ao redor daquele poço. Os laços sociais eram pacientemente tecidos ali. Todos compartilhavam a sua vida e se inteiravam de tudo o que acontecia na aldeia, estendendo uma espécie de tapete de solidariedade que unia todos eles. Ao redor do poço era possível saber quem estava doente, quem estava em dificuldades ou necessitando de ajuda. O poço evitava que alguém fosse “ao fundo do poço” sem receber o auxílio de todos.
A praça ao redor do poço também era o parque em que as crianças brincavam, os idosos conversam longamente, todos partilhavam dores e alegrias e se refrescavam ao final de um dia de trabalho. Todos podiam olhar-se no rosto e revigorar os corpos cansados da luta diária, apoiando-se mutuamente. Tudo ocorria naquele lugar mágico, que provia a mesma água que mata a sede de corpo e espírito, unindo todos no gesto simples de buscar água.
Como nada permanece estático, os ventos da mudança também alcançaram aquela aldeia. A principal delas ocorreu justamente no poço. Junto dele, moradores começaram a questionar o modo de utilização daquele poço. Tudo era muito rústico e a distribuição da água deveria ser melhorada.
Aquela ideia foi tomando corpo e deu origem a uma grande obra. A captação foi melhorada, evitando que aquela água boa fosse contaminada, e uma complexa malha de canos foi implantada para distribuí-la a domicílio. Ninguém mais precisaria ir ao poço com baldes e cântaros, pois a água agora chegaria pelos canos, fresca e tranquila, para o consumo de cada um, no conforto do lar.
A novidade fez a aldeia progredir enormemente. A realização das tarefas diárias, como preparar comida, fazer pão, lavar roupa, tomar banho, regar a colheita, lavar os currais e chiqueiros, fazer queijos e preparar doces ficou muito mais prática. Agora todos podiam fazer muito mais em menos tempo.
Aquela praça ficou bem mais calma e silenciosa. Não havia mais tanta gente na rua, nem crianças fazendo algazarra por ali. Não havia mais conversas na praça em torno do poço. Na verdade, não havia mais um poço visível e poucos ainda sabiam onde ele se localizava. Sobre o local havia sido erguida uma construção estranha, que nem lembrava mais um poço.
Os hábitos de convívio na aldeia foram mudando drasticamente. Ninguém mais sabia o que ocorria, nem tinha tempo para as necessidades dos outros. Logo surgiu um jornal, e também uma rádio. Agora não se ouvia mais os acontecimentos de viva voz, da boca de quem passava por uma situação difícil. As notícias falavam sobre pessoas sem rosto e, aos poucos, todos foram sendo transformados em números e estatísticas.
Agora a aldeia tinha representantes dos moradores, que decidiam sobre melhorias na distribuição da água. Tudo foi sendo cada vez mais setorizado. Cada departamento criava as suas próprias regras de distribuição e fazia campanhas informando a população sobre a melhor forma de consumir a água.
Com o tempo, todos foram esquecendo o poço, a praça, as conversas e os problemas dos outros. Cada um cuidava só da sua vida e dos seus problemas. Os que ainda se lembravam do poço, tinham medo de voltar à praça, de voltar a encontrar-se em torno do poço comum ou, mesmo, de buscar uma alternativa que voltasse a provocar aqueles saborosos encontros diários. A privacidade passou a ser um bem apreciado.
As novas gerações nem se lembravam de tudo isso. A memória da aldeia havia se perdido no tempo. Embora todos bebessem da mesma água, nada mais tinham em comum. Embora a água continuasse a mesma, a complexa rede de captação que haviam criado os dividia. Todos, porém, tinham uma saudade ancestral do tempo em que um poço os havia tornado uma aldeia.
A vida da aldeia acontecia ao redor daquele poço. Os laços sociais eram pacientemente tecidos ali. Todos compartilhavam a sua vida e se inteiravam de tudo o que acontecia na aldeia, estendendo uma espécie de tapete de solidariedade que unia todos eles. Ao redor do poço era possível saber quem estava doente, quem estava em dificuldades ou necessitando de ajuda. O poço evitava que alguém fosse “ao fundo do poço” sem receber o auxílio de todos.
A praça ao redor do poço também era o parque em que as crianças brincavam, os idosos conversam longamente, todos partilhavam dores e alegrias e se refrescavam ao final de um dia de trabalho. Todos podiam olhar-se no rosto e revigorar os corpos cansados da luta diária, apoiando-se mutuamente. Tudo ocorria naquele lugar mágico, que provia a mesma água que mata a sede de corpo e espírito, unindo todos no gesto simples de buscar água.
Como nada permanece estático, os ventos da mudança também alcançaram aquela aldeia. A principal delas ocorreu justamente no poço. Junto dele, moradores começaram a questionar o modo de utilização daquele poço. Tudo era muito rústico e a distribuição da água deveria ser melhorada.
Aquela ideia foi tomando corpo e deu origem a uma grande obra. A captação foi melhorada, evitando que aquela água boa fosse contaminada, e uma complexa malha de canos foi implantada para distribuí-la a domicílio. Ninguém mais precisaria ir ao poço com baldes e cântaros, pois a água agora chegaria pelos canos, fresca e tranquila, para o consumo de cada um, no conforto do lar.
A novidade fez a aldeia progredir enormemente. A realização das tarefas diárias, como preparar comida, fazer pão, lavar roupa, tomar banho, regar a colheita, lavar os currais e chiqueiros, fazer queijos e preparar doces ficou muito mais prática. Agora todos podiam fazer muito mais em menos tempo.
Aquela praça ficou bem mais calma e silenciosa. Não havia mais tanta gente na rua, nem crianças fazendo algazarra por ali. Não havia mais conversas na praça em torno do poço. Na verdade, não havia mais um poço visível e poucos ainda sabiam onde ele se localizava. Sobre o local havia sido erguida uma construção estranha, que nem lembrava mais um poço.
Os hábitos de convívio na aldeia foram mudando drasticamente. Ninguém mais sabia o que ocorria, nem tinha tempo para as necessidades dos outros. Logo surgiu um jornal, e também uma rádio. Agora não se ouvia mais os acontecimentos de viva voz, da boca de quem passava por uma situação difícil. As notícias falavam sobre pessoas sem rosto e, aos poucos, todos foram sendo transformados em números e estatísticas.
Agora a aldeia tinha representantes dos moradores, que decidiam sobre melhorias na distribuição da água. Tudo foi sendo cada vez mais setorizado. Cada departamento criava as suas próprias regras de distribuição e fazia campanhas informando a população sobre a melhor forma de consumir a água.
Com o tempo, todos foram esquecendo o poço, a praça, as conversas e os problemas dos outros. Cada um cuidava só da sua vida e dos seus problemas. Os que ainda se lembravam do poço, tinham medo de voltar à praça, de voltar a encontrar-se em torno do poço comum ou, mesmo, de buscar uma alternativa que voltasse a provocar aqueles saborosos encontros diários. A privacidade passou a ser um bem apreciado.
As novas gerações nem se lembravam de tudo isso. A memória da aldeia havia se perdido no tempo. Embora todos bebessem da mesma água, nada mais tinham em comum. Embora a água continuasse a mesma, a complexa rede de captação que haviam criado os dividia. Todos, porém, tinham uma saudade ancestral do tempo em que um poço os havia tornado uma aldeia.
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