quarta-feira, 30 de maio de 2012

De “baianos” a “bolivianos”


A maior cidade do Brasil, sempre na vanguarda em tudo, também tem um triste protagonismo no que se refere ao preconceito. Na segunda metade do século 20, o termo “cabeça chata” era parte de um vocabulário discriminador e generalizador para referir-se a qualquer migrante oriundo do Nordeste brasileiro. Na época, o bullying racial voltado contra os nordestinos era resumo de uma série de adjetivos: lento, vagabundo, burro, incompetente; sempre para enaltecer uma suposta aptidão paulistana ao trabalho e ao sucesso individual.

Agora o alvo mudou, mas o preconceito continua o mesmo. Com a mudança da economia fazendo muitos nordestinos voltarem às suas origens em busca de melhores oportunidades na terra da qual outrora tiveram que retirar-se, a nova força trabalhadora é formada por uma crescente comunidade latino-americana. Destaque neste novo grupo de trabalhadores semi-escravos são os bolivianos. O rosto andino, de descendentes do outrora orgulhoso e poderoso povo Aimara, a cor escura da pele, os traços indígenas e o sotaque espanhol acentuado fazem ressurgir um velho preconceito antes voltado contra os povos indígenas brasileiros. O baiano agora virou boliviano, com os mesmos adjetivos: sujo, preguiçoso e bêbado.

A comunidade que agora recebe o mesmo tratamento já dispensado aos nordestinos já é integrada por mais de 150 mil bolivianos, a maioria trabalhando em espeluncas que chamam de confecções, em espaços apertados, quentes e de suado trabalho das 7h30min às 22h30min, nos quais a maioria também se abriga. Para piorar sua situação, boa parte deles vive na ilegalidade no Brasil.

É contra essa gente que a São Paulo do século 21, sempre orgulhosa de sua vanguarda, sai na frente outra vez ao tratar os bolivianos de agora como os nordestinos de outrora. À medida que o Brasil se consolida como pólo regional, naturalmente nossas fronteiras vão receber um contingente cada vez maior de estrangeiros. É uma inversão da história. A cidade que recebe a todos de braços abertos tem os punhos cerrados para os bolivianos.

Mais detalhes sobre essa dura realidade de xenofobia, preconceito e bullying racial, com numerosos relatos de casos pessoais, você pode ler na matéria da Revista do Brasil.

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