quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Na hora do jogo, pode dizer qualquer coisa sem consequências?

Suárez foi acusado formalmente de ofender Evra com declarações racistas.
Foto: AgNews/AP

Não é de hoje que o futebol inglês tem sido palco de manifestações racistas. Os petardos vêm da torcida dos times, mas também afloram em campo, em meio ao calor e à excitação dos jogos. O zagueiro John Terry e o atacante Luis Suarez são dois jogadores envolvidos em acusações formais desse tipo de comportamento.

Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, entretanto, esse tipo de acusação é conversa. Ele não acredita que os atletas acusados tenham de fato ofendido seus adversários dessa maneira. Por conta de suas declarações, os jogadores negros fizeram duras críticas ao cartola-mor do futebol mundial. Ele disse que resolveria esses casos com um simples aperto de mão entre os atletas.

Ontem (16 de novembro) o atacante uruguaio Suárez foi acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol por ter dirigido xingamentos de conteúdo racista ao lateral esquerdo do Manchester United, Patrice Evra. O capitão da seleção da Inglaterra e do Chelsea, John Terry, foi denunciado pelo zagueiro Anton Ferdinand, do Queens Park Rangers, pelo mesmo delito.

Para Blatter os xingamentos e as ofensas entre os atletas durante uma partida são normais e todos esses casos, que tomaram grandes proporções na Europa, não passam de mal entendidos. “Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo e ao final dele nós nos apertamos as mãos”, declarou Joseph Blatter em entrevista à CNN.

A declaração de Blatter faz retornar à minha cabeça uma frase que Paulo Maluf disse numa palestra na PUC, em 1989: “Se tem desejo sexual, estupra mas não mata”. Ele próprio a classificou mais tarde como a frase mais infeliz da sua vida. Entretanto, revela que a nossa cabeça nos trai quando, no fundo no fundo, acreditamos em alguma coisa e defendemos outra.

Também a frase do dirigente máximo do futebol mundial dá a entender que, para ele, o calor da competição justifica qualquer coisa e até declarações absolutamente despropositadas podem ser ditas nessas horas. Depois a gente as classifica como “a frase mais infeliz da minha vida” e se passa uma borracha por cima, como se não tivesse sido dita.

Mas o resultado da frase permanece, porque fomenta uma cultura que está na cabeça de muita gente e que precisa, sim, ser combatida não só com afagos e tapinhas nas costas, do tipo “nós compreendemos”. Não dá para compreender, nem aceitar, nem relevar. E se a FIFA não aceita intermediar essa disparidade absurda, quem o fará no futebol? Os atletas negros que engulam em seco e se virem com o que ouvem em campo, porque isso faz parte do futebol? Sinceramente, não dá. A revolta dos atingidos, que não pouparam Blatter de duras críticas, é mais que justificada.

Um comentário:

  1. Pera lá também , em ambos os casos dos atletas , não existem provas , além de próprios companheiros negros de ambos os times terem dito que não houveram xingamentos racistas , não basta acusar para provar , e a FIFA não faz pouca coisa não , quem esta por dentro do futebol Europeu , digo , quem o acompanha , sabe que a entidade faz inúmeras campanhas , além de que , o futebol ingles já foi dos mais racistas , lembranco os hooligans , e hoje isso já foi MUITO diminuído com inúmeras campanhas e punições , hoje já se vê muito pouco , problema maior se vê no futebol russo , isso sim , analise como era a Premier league a 20 anos atrás e vê como é agora , e note uma ENORME diferença.

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