terça-feira, 5 de julho de 2011

A IECLB e a homolegalidade


A carta pastoral da IECLB sobre Sexualidade humana – Homoafetividade (leia a carta na íntegra aqui, divulgada pela Presidência da Igreja no último dia 24 de junho, em Porto Alegre, está levando o número de acessos do jornal O Caminho às alturas. Também já apareceram, como era de se esperar, algumas reações bem negativas quanto à posição ali oficializada. As que entraram até agora perguntam se a direção da nossa Igreja rasgou a carta aos Romanos e afirmam que estão envergonhados de serem luteranos.

Na verdade, a carta não é tão contundente assim, para merecer reações tão iradas. Antes de defender o que alguns chamam erroneamente de “casamento gay”, a carta assinada pelo pastor presidente Nestor Friedrich é um convite para “um diálogo franco, desarmado e fraternal”. Um convite não compreendido, uma vez que os opositores da decisão do STF estão ouriçados como cão assustado diante de cobra. Não conseguem ouvir qualquer argumento que não seja o deles.

A carta pastoral da IECLB não faz outra coisa além do que os luteranos sempre fizeram muito bem: submeter-se à lei. Ou seja, reconhece a decisão do tribunal como válida, uma vez que dá garantia legal a uma união que acontece entre pessoas do mesmo sexo que decidem morar juntas, debaixo do mesmo teto.

Tal união tem implicações legais óbvias e nem sempre fáceis de comprovar, como ter uma casa, uma conta conjunta, um carro, previdência social, seguro de vida, móveis, negócios, enfim. Até aqui, esse tipo de união não tinha nenhum amparo legal.

Já aconteceu muitas vezes que, quando morre um dos parceiros de uma união dessas, os parentes dilapidam aquele que sobreviveu, retirando dele até as cuecas do armário. Atacam o espólio como se não fosse de ninguém e, principalmente, como se o sobrevivente não tivesse ajudado durante anos a construir aquele patrimônio comum.

Agora, com a proteção do STF, tal ataque injusto não é mais possível. O espólio entra na lei do inventário, que rege qualquer outra união estável.

E este é o aspecto central da nova lei aprovada pelo STF. O resto, meus revoltosos amigos fundamentalistas, é pura projeção. Nós vivemos, graças a Deus, num Estado Laico. Não me venham com essa conversa de que agora haverá pastores fazendo “casamento gay”, porque isso é forçar a barra. Não há nenhuma decisão da IECLB – nem do STF! – nesse sentido. Os líderes em Porto Alegre sabem muito bem que isso iria literalmente rachar a igreja. Então, parem com essa conversa, que ninguém é bobo. A IECLB está dando sua anuência a uma lei que regula um tipo de união entre pessoas que já vem acontecendo há séculos no mundo inteiro. Nada mais do que isso. E ponto final! Os "casamentos" sendo celebrados são uma forma de protesto, uma maneira de provocar a sociedade, ferindo-a em seu preconceito.

De resto, a IECLB defende o diálogo. Como uma igreja que surgiu de muita conversa entre gente que se odiava, ela nem podia diferente. Por favor, informem-se um pouco sobre a nossa história e como a IECLB foi constituída! Nós somos da conversa! Alguns parecem querer enterrar este nosso passado e partir para a porrada! E vamos conversar, sim, também nesta questão polêmica. O que é que há? À revelia de um dos que se manifestou contra os “tapinhas nas costas”, este é exatamente o jeito de lidar a partir do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo: dando tapinhas nas costas.

Por fim, um alerta aos fundamentalistas: quanto mais vocês insistirem nessa conversa de que querem o direito de livre manifestação contra o homossexualismo, mais estão contribuindo para que a Lei Antihomofobia seja aprovada. Porque essa atitude de vocês é homofóbica, não há como negar. O pior é ser homofóbico introduzindo a argumentação com a frase: “não somos preconceituosos, mas...”

3 comentários:

  1. O problema é que quem tem o poder também é dono do discurso. E, fica sempre mais bonitinho o discurso do diálogo. O que vale mesmo é manda quem pode e obedece que é fraco e depende...

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  2. Clovis. Também sou pastor da IECLB. Li o artigo no Caminho. Parece q vc aprendeu jornalismo nas escolas da Veja e da FSP? Que tipo de título tendencioso é aquele. É como as reportagens da veja que coloca um título e depois explica diferente para induzir o leitor ao erro?
    E pode parar com a neura de nos chamar de fundamentalistas, nem sabe o que é isso. E antes de escrever num jornal com a tradição que "O Caminho" tem deverias fazer um curso de jornalismo para se prender aos fatos e não o tipo de jornalismo que a imprensa golpista faz aqui no Brasil.
    P. Joel Schlemper

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  3. Pelo que o autor disse a IECLB só não admite pastores fazendo casamento gay por que isso iria rachar a Igreja e não por que a Bíblia veda? Complicado, já que a prioridade deveria ser a obediência à Palavra.

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