quarta-feira, 25 de maio de 2011
A homofobia e a graça de Deus
Se o medo das igrejas com relação à lei que pretende tornar a homofobia crime é em relação à perda da liberdade de pregar que a homossexualidade é pecado, o foco está distorcido desde o princípio. Especialmente para os evangélicos, cujas raízes teológicas estão na Reforma, o discurso de pregar sobre uma lista de coisas que são pecados está fora de foco.
A redescoberta (Lutero, por exemplo) da graça de Deus como ato libertador não está presa a uma lista. Ela revela a condição humana. Diante de Deus o ser humano não é a sua lista de pecadinhos e pecadões, mas é simplesmente pecador. Eu não estou em pecado por isso ou aquilo, mas eu sou pecador. É a minha condição, independente se eu estou numa prisão de segurança máxima ou sou o pastor da minha igreja.
Diante deste preceito teológico fundamental, não concebo as igrejas anunciando que isso ou aquilo é um pecado a ser destacado. Por que o homossexualismo deveria encabeçar esta lista? O que é feito da prevaricação, da corrupção, da usura, da inveja, do ódio, da preguiça e de outras listas já rejeitadas no passado? Como agora pretendem ressuscitar uma lista de pecados, só para fundamentar sua indisfarçada homofobia? Por que não dizem de uma vez que em sua igreja os homossexuais estão fora e pronto? Que não há lugar para pastores gays ou pastoras lésbicas, que nela presbítero bicha não tem a mínima chance e que entre seus fiéis somente haverá viados que não saem do armário por medo de perderem a “graça” de seus pastores?
A estreiteza teológica evangélica de pastores como Silas Malafaia e Julio Severo – porque não entenderam a profundidade do perdão oferecido pela graça divina e continuam promovendo listinhas de pecados – só faz despertar o ódio e o preconceito. Eles não estão ajudando a garantir a liberdade de pregar o evangelho. Eles estão prejudicando a imagem pública da igreja e detonando a moral dela como instituição em condições de anunciar a graça e de denunciar o preconceito.
E para não ficar só jogando pedra no terreno do vizinho, lamento que a direção da IELB – a Luterana Missouri, onde tenho amigos e teólogos que respeito e admiro – tenha assumido este discurso como seu. A teologia da graça de Deus, tão fartamente abordada e apaixonadamente defendida por Martim Lutero, não merece este golpe abaixo da linha de cintura. A IELB até tentou passar uma cerinha no discurso, incluindo-o no seu propósito missionário de levar Cristo Para Todos (e, por conseguinte, também aos homossexuais). Fazem diferença entre o pecado do homossexualismo e o ser humano homossexual, que afirmam amar – desde que abandone o homossexualismo e se torne um ser humano adaptado à sua interpretação da Bíblia.
Ainda aguardamos uma posição da nossa IECLB e espero, com ardor, que não se una assim, de pronto, a este discurso anulador da graça.
Quem quiser interpretar de forma tão fundamentalista o Antigo Testamento, tem que fazer retornar muito mais leis ao nosso moderno código penal do que a condenação do homossexualismo. O Antigo Testamento tem diversas leis sobre pecados que devem ser condenados com o apedrejamento, com o corte da mão ou a extração de um olho. Há leis sobre usura, impureza e tantas outras, que fariam voltar uma antiga discussão que me parecia já resolvida nos tempos do Apóstolo Paulo. Se a lei que isola o homossexualismo como um pecado especial está em vigor, também essas outras continuam valendo. Ou então, caras igrejas oriundas da Reforma, a graça de Deus é a única que vigora. Ou continuamos na busca desesperada pela perfeição, aquela que quase levou Lutero à loucura? Eu opto pela graça e, na visão de que somos pecadores e não portadores de uma lista de pecados versus bom-mocismo, homofobia deve ser enquadrada como crime.
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Olá Clóvbis!
ResponderExcluirMeu nome é André e sou membro da IECLB, coordenador do ministério jovem, ME. Você falou contra o discurso dos evangélicos na atualidade a respeito do homossexualismo, mas não deixou claro qual a sua opinião a respeito. Como objetivamente devemos lidar com o homossexualismo dentro da comunidade cristã? Pelo teu artigo, deu-me a impressão que você defende a liberdade de viver a prárica da homossexualidade dentro desta. Estou enganado?
Outra coisa: não é só o antigo testamento que fala a respeito disso. O novo testamento também tem suas restrições a prática homossexual (Rm 1.18-27; 1 Co 6.9-10). Fica claro que o homossexualismo não é um pecado diferente dos outros ou com maior importância diante de Deus. Mas fica claro também que Paulo (Em Co) pensa que estas coisas precisam ser limpas por Jesus e restauradas no nosso ser corrupto, e nesse sentido há uma palavra dura de condenação (que não é a única no NT) para aqueles que não querem abandonar a prática listadas (não que isso os isente de uma luta por toda a vida contra tais desejos pecaminosos).
Orbigado por expor sua opinião. Que Deus te abençõe!
Caro P. Clóvis. Concordo plenamente contigo quando procura ressaltar a importânciar de não supervalorizar um pecado e minimizar outros que são tão abomináevis quanto. Corrupção que desvia dinheiro da saúde púlbica, por exemplo, onde a população morre por falta de atendimento médico ou de remédio. Tal pecado também precisa fazer parte de nossas listas de discussões fervorosas, assim com tem sido abordada a questão do homssexualismo. Entretanto, discordo de sua opinião quando procura relativizar o pecado em razão da graça. Lutero entende a graça a partir de Paulo. Esse mesmo apóstolo, enfatiza que todos pecadoram e caressem da glória de Deus e aponta para a graça que cobre multidão de pecados, nsem deixam também de recrimar as práticas que contrariam os propósitos de Deus. Certamente não podemos usar o AT como regra para doutrina cristão, sem que haja uma reafirmação do preceito em questão no NT. No caso específico do homossexualismo, não é tema exclusivo do AT, mas também é tratado no NT, e a leitura dos apóstolos não difere, mesmo o apóstolo da graça (Paulo). Duvido que Lutero, a partir de Paulo, apresentasse uma visão diferente, alegando a teologia da graça que ele mesmo procura embasar, principalmente tendo como texto norteador a carta de Romanos, para validar o homossexualismo. Precisamos reafirmar que a graça que anunciamos não é uma graça barata. E que como luterano, nossa hermenêutica envolve LEI e EVANGELHO, que não são realidade excludentes.
ResponderExcluirP. Joelson Erbert Martins
Paróquia de Sã José - SC
e-mail - martaejoelson@oi.com.br
Parabéns Pastor Clovis,
ResponderExcluirNão optamos por ser gays como vocês não optaram por ser heteros!
Somos amados por Deus e fazemos parte da sua boa criação!
Obrigado !