segunda-feira, 9 de maio de 2011
Somos todos reféns do petróleo
O petróleo é o grande vilão ambiental. Ele e todos os seus derivados, que são tantos que não tenho certeza de conseguir enumerar ao menos a metade deles. Vivemos em plena era do petróleo, e somos tão dependentes dele que hoje absolutamente tudo o que manuseamos no nosso dia a dia tem a implacável presença do óleo negro que nos veio de herança de eras jurássicas. Tudo estava lá, soterrado, no fundo do planeta, e nós trouxemos à tona, à luz do dia, para o meio do mundo atual, a sobra de um mundo que mal sabemos como foi.
Atrás dele vamos cada vez mais fundo no planeta. Por causa dele vamos à guerra. Em nome dele construímos a nossa civilização. E a nossa civilização não sobrevive sem ele. Por mais que falemos em energias alternativas, o petróleo é tudo, está em tudo e nada lhe escapa. A humanidade é refém incontornável do óleo negro das profundezas. Sabemos o mal que ele causa, mas não sabemos mais viver sem ele. Como saúvas desesperadas, depois de cortarem todas as folhas do entorno do formigueiro, vamos cada vez mais longe, em busca de novos arbustos para desnudar.
Nos primeiros tempos, o uso do petróleo em larga escala até que teve um impacto ambiental positivo, pois a matança de baleias caiu drasticamente. Os enormes mamíferos marinhos viravam toneladas de óleo para lampiões e lamparinas, que agora podiam ser abastecidas com querosene.
Não vou tentar fazer uma lista, porque hoje o seu uso vai muito além do da iluminação, do combustível para o transporte coletivo e individual e dos plásticos. Um site americano chegou a listar quase dois mil produtos de uso cotidiano que não poderiam ser feitos sem o petróleo. Entre eles a aspirina, o capacete de motociclista e o paraquedas. Sem o petróleo, produzir essas coisas teria um custo elevadíssimo.
A era do Petróleo está muito longe de acabar. “Será impossível viver sem petróleo ainda por muito tempo”, diz Carlos Alberto Lopes, diretor da GasEnergy, que foi por décadas funcionário da Petroquisa, subsidiária petroquímica da Petrobrás.
A cada dia se descobrem novos usos para as fibras sintéticas oriundas do petróleo, novos usos para seus múltiplos elementos químicos, que têm as moléculas quebradas pelo calor para dar origem a outro elemento, outro produto, milhares deles. A maioria desses usos é nobre, pois eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem estar, a nossa saúde.
Para ficar só num exemplo, o famoso analgésico AAS (ácido acetilsalicílico), base de todos os medicamentos para combater a dor de cabeça e primeiro remédio produzido em escala industrial (pela Bayer, na Alemanha), contém o Fenol, elemento químico que sai do Cumeno, derivado do Benzeno, que saiu da Nafta, que saiu do óleo original, o petróleo.
De resto, é só ficar atento e olhar em volta. Dentro de casa, nos objetos, nas paredes, no assoalho, no teto, nos fios, nas tintas, nos canos, nos detergentes, nos armários, eletrodomésticos, nos objetos mais simples, como um saco plástico ou nas coisas bonitas, como um daqueles vestidos dos desfiles de alta costura. Tudo tem PET, PVC, poliéster, polipropileno, polietileno, náilon, solvente, resina.
Popularmente, todos esses nomes se resumem ao plástico. Hoje em dia, se produzem plásticos tão duros quanto o aço e tão transparentes quanto o vidro, e com grande economia de energia de produção na comparação. O farol dos automóveis hoje é feito de policarbonato, não de vidro. A indústria petroquímica perpassa quase todas as demais indústrias com seus insumos: de fertilizantes, plásticos, fibras químicas, tintas, corantes, elastômeros, adesivos, solventes, tensoativos, gases industriais, detergentes, inseticidas, vacinas animais, explosivos, na construção civil, nas telecomunicações, médico-hospitalar, distribuição de energia e outras centenas de segmentos.
O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. Além disso, é altamente poluente. Apesar dos avanços e das pesquisas, considerando apenas os plásticos, somente 15% do total produzido é reciclado. O resto vai para o lixo. Pratos, canetas, bijuterias, espuma, embalagens a vácuo e fraldas descartáveis, entre outros, ainda não são reciclados.
A reciclagem do plástico exige cerca de 10% da energia utilizada no processo primário. Uma série de produtos pode ser fabricada com resíduos plásticos, como cabides, pentes, garrafas, frascos, baldes, cerdas de escovas de dente, vassouras e painéis para a construção civil, entre outros. Tudo deveria ser reciclado, mas falta dinheiro, falta cultura. (Com informações de Carta Capital)
Nessas poucas linhas descobrimos que a humanidade está numa verdadeira sinuca de bico. Absolutamente todos os avanços que verdadeiramente podem ser assim chamados, nesses tempos de transformações que sequer podem ser acompanhadas, dependem do milagroso óleo que queremos substituir. Impossível falar em sustentabilidade num ambiente totalmente insustentável, do qual todos nós fazemos parte, queiramos ou não.
Por isso, essa insistência da indústria automobilística em falar de carros elétricos, ecologicamente corretos e todo esse discurso, é um grande engodo. Que diferença faz a bateria num veículo cujas outras peças dependem todas da indústria química que, por sua vez, depende do petróleo? Reféns. Somos todos reféns. Mais do que temer a poluição que o petróleo causa, tememos o dia em que nos digam que ele acabou.
Será um dia terrível para a humanidade. Ou você, em sã consciência, conseguiria viver sem absolutamente nenhum produto sintético, provido pelos milagres da indústria petroquímica? Pare para pensar e você descobrirá, em poucos segundos, que teremos que voltar o relógio do desenvolvimento em pelo menos uns 300 anos... De tudo aquilo que me cerca nesta mesa, sinceramente, nada restaria. Desconcertante!
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