terça-feira, 31 de maio de 2011

Celulares estão na mira


Os celulares estão na mira ultimamente. Há 20 dias, uma notícia no portal da Globo dava conta da influência dos sinais eletromagnéticos dos aparelhos celulares no desaparecimento das abelhas. Hoje, uma nova notícia no G1 afirma que a OMS descobriu que a sua radiação está associada à causa de um tipo de câncer no cérebro.

Segundo anúncio feito hoje 31 de maio na França, pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, um braço da Organização Mundial de Saúde (OMS), os pesquisadores colocaram a radiação dos telefones móveis no mesmo nível de perigo da emissão de gases de automóveis, como o chumbo e o clorofórmio, “possivelmente carcinogênicos para humanos”. A agência, no entanto, ressaltou que, até agora, não foram registrados casos de problemas de saúde ligados ao uso do aparelho, mas pode ocorrer no futuro. A conclusão é de 31 cientistas de 14 países, sobre a existência de mais de 5 bilhões de aparelhos celulares em operação no mundo.

A notícia veiculada n o site da Globo no dia 13 de maio afirma que o desaparecimento das abelhas, a ponto de prejudicar a produção de mel e a polinização de culturas como a da maçã , em Santa Catarina, pode estar ligado às emissões dos sinais eletromagnéticos dos celulares. Esses sinais podem estar confundindo e até matando abelhas ao redor do mundo, segundo uma pesquisa realizada por Daniel Favre do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça.

O estudo foi realizado em 2009, mas só foi publicado agora. Para o experimento, Favre gravou os sons de abelhas expostas a sinais electromagnéticos emitidos por celulares, e observou a produção de sons semelhantes ao que as abelhas produzem quando abandonam a colmeia. Favre expôs a abelha a ondas de celulares por 20 horas, exposição prolongada que fez com que as abelhas não mais encontrassem o caminho de volta para a colmeia, deixando-a praticamente vazia entre 5 e 10 dias.

Com a exposição, as abelhas fizeram sons como se estivessem abandonando a colméia, embora permanecessem, o que significa que estavam confusas. Um relatório da ONU publicado em 2010 revelou uma queda global na população de abelhas. Isso é motivo de preocupação porque entre os 100 produtos agrícolas responsáveis por 90% dos alimentos consumidos mundialmente, 71 são polinizados por abelhas.

Quem planta vento, colhe tempestade


O avião da chanceler alemã Angela Merkel foi impedido, nesta madrugada, 31 de maio, de cruzar o espaço aéreo do Irã rumo à Índia. As autoridades iranianas obrigaram o avião a sobrevoar espaço aéreo turco durante duas horas, tempo que duraram as negociações por autorização. A diplomacia alemã afirma que, como de praxe, solicitou e obteve todas as autorizações necessárias para realizar o voo antes de iniciar a viagem, coisa que os iraniamos negam. Curiosamente, um outro avião lotado de assessores não teve problema algum, e pôde cruzar normalmente o espaço aéreo do Irã rumo à Índia.

Depois de duas horas e prestes a ter que fazer um pouso de emergência na Turquia para reabastecer, o avião “Konrad Adenauer” – uma espécie de Air Force One da Alemanha – pôde cruzar o Irã rumo à Índia. O incidente foi classificado de agressão pela diplomacia alemã e o governo daquele país deve solicitar explicações ao Irã. No mínimo, deve requerer um pedido de desculpas.

A verdade é que, com o exército alemão metendo cada vez mais a colher nos perigosos negócios da OTAN, começa a despertar a ira de alguns atingidos. Bons tempos aqueles em que os alemães optaram em permanecer calados, ainda ressentidos com a história desastrosa da segunda guerra.

Saída honrosa para o plástico?


O plástico é um dos mais danosos vilões ambientais da civilização moderna. Cerca de 4% de todo o petróleo extraído no mundo é destinado à produção de plásticos, que são a matéria-prima da vida moderna. Desde os mais simples utencílios domésticos até aplicações industriais indispensáveis, a humanidade não pode mais viver sem esta invenção. O problema principal é que, além de levar décadas para decompor-se, a produção de cada quilo de plástico lança seis quilos de CO2 na atmosfera.

Nos últimos anos, entretanto, pesquisas vêm apresentando alternativas de substituição do plástico de petróleo pelo que se convencionou chamar de “plástico verde”. Eles são produzidos a partir de matéria-prima renovável. O Brasil é um dos expoentes nesta pesquisa, que vem dando destinação eficaz às sobras vegetais da indústria canavieira para gerar uma produção sustentável de bioplástico.

O bioplástico é composto de plantas como a cana-de-açúcar. Dificilmente pode-se encontrar algum utencílio doméstico para o qual ainda não exista ou esteja em desenvolvimento alguma alternativa em bioplástico. As aplicações do material incluem desde estruturas para celular e talheres descartáveis até sacolas de supermercado e vasos de flores, passando por sapatos e fraldas. No Brasil, a empresa petroquímica Braskem utiliza a crescente indústria nacional de etanol canavieiro para produzir o bioplástico.

O problema desse tipo de produção, entretanto, leva o mesmo rótulo negativo da produção do etanol, ou seja, o de desmatar para plantar cana ou de reduzir as áreas agricultáveis destinadas à produção de alimentos para a produção de combustível. Embora hava uma boa dose de verdade nessas preocupações, diversos projetos estão minimizando o impacto da produção de plástico a partir da cana-de-açúcar utilizando os restos da produção do etanol: o bagaço da cana. Esses bagaços costumam ser queimados, resultando em grandes emissões de dióxido de carbono na atmosfera.

Embora uma alternativa, o fato de ser feito com matéria-prima renovável não o torna automaticamente melhor para o meio ambiente. É preciso considerar todo o ciclo de produção para dizer se o bioplástico é ecologicamente menos agressivo do que o de petróleo. Mas ele pode, sim, representar uma primeira resposta positiva para um grave problema ambiental do nosso tempo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Arma em casa, tenha uma...

Tragédia. Em Fresno, nos EUA, uma criança de dois anos dispara acidentalmente uma pistola automática e mata a irmã de seis anos. A menina morreu na hora, e o acidente foi assistido por outras duas crianças. O que elas estavam fazendo com uma pistola automática no meio dos seus brinquedos? O pai estava em casa. Ouviu o disparo em outro cômodo. Mas nada disso tirou o “bom senso” da polícia local, que está tratando o caso como “um acidente”, do qual os pais de modo algum são culpados. Outro detalhe, ainda mais aterrador: diversas outras armas foram encontradas na casa, que foram todas apreendidas para a investigação. (Rastreie a notícia aqui: http://glo.bo/lRonYP). E os EUA são o sonho de consumo dos defensores brasileiros das armas na casa do cidadão “de bem”, para defender-se dos meliantes, bandidos, assaltantes, ladrões e estupradores. Sem mais comentários...

Juana é a mais velha do mundo


A cubana Juana Bautista de la Candelaria Roduiguez completou 126 anos em 2 de fevereiro. Com essa idade, ela é a pessoa mais velha de que se tenha conhecimento no mundo. Mas Juana, que vive em Campechuela, província de Granma-Cuba, não é mencionada no Guinness World Records. No dia 18 de maio o livro dos recordes anunciou que a mineira Maria Gomes Valentim, de Carangola, com 114 anos e 313 dias, seria a pessoa mais velha do mundo. A brasileira substituiu a norte-americana Besse Cooper.

O Guinness, publicado pela primeira vez em 1955, não faz restrições a qualquer nacionalidade, tanto que outros cubanos já apareceram no livro. A publicação alega que o nome de Juana está fora porque desconhecem o caso. Para provar sua idade, o requerente precisa ter uma certidão de nascimento original emitida até 20 anos após a data de nascimento e provas de que continua viva. Os familiares garantem que o comprovante da idade de Juana está no cartório de Campechuela. Ela foi registrada 25 dias após seu nascimento.

A expectativa de vida em Cuba é de 78 anos para homens e 80,2 para mulheres. Na ilha, vivem 1.551 pessoas com mais de 100 anos de idade. Atualmente vivem no país caribenho dez centenários a mais do que em 2010. (Com informações do Opera Mundi)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Eis o depoimento do Zé

O sangue de Zé e Maria está em nossas mãos


Este emocionante depoimento sobre José Cláudio e Maria do Espírito Santo foi escrito pela bióloga Juliana Machado Ferreira, mestra em Biologia e doutoranda em Genética. O artigo foi publicado ontem, 26 de maio, no jornal paulista Diário do Comércio, no espaço cedido pelo colunista Neil Ferreira. Leia e indigne-se: Até quando vamos tolerar tudo isso?

Majestade é a maior castanheira do lote de José Cláudio Ribeiro da Silva e de sua esposa, Maria do Espírito Santo, em Nova Ipixuna, Pará.

Zé Cláudio, castanheiro desde os sete anos, possuia a sabedoria do povo da floresta, algo que só acreditei que existia quando o conheci.

Até então achava que era mais um clichê.

Em 6 de novembro de 2010, Zé Cláudio deu uma palestra emocionante no TEDxAmazonia, que desde fevereiro de 2011 está online, de graça, para quem quiser assistir (www.tedxamazonia.com.br). Eu não conhecia Zé até então. Seu nome foi sugerido pelo jornalista Felipe Milanez. A palestra de Zé foi emocionante em todos os sentidos.

Em sua sabedoria simples, em sua luta heroica e na previsão de que pagaria com a vida a sua luta pela floresta.

Na noite após a palestra tive a oportunidade de conversar com Zé por 3 horas. Fiquei emocionada com a mansidão de sua fala e com a força de suas palavras. Fiquei encantada com sua clareza em relação à conservação ambiental, e com sua sabedoria inata de que a floresta derrubada e queimada provê recursos apenas uma vez, mas que a floresta em pé provê hoje, amanhã, daqui a anos e anos. Fiquei surpresa com a facilidade com a qual ele expôs a relação direta entre ecossistemas saudáveis e disponibilidade de recursos naturais, de água, a qualidade de vida não apenas do povo da floresta, mas de todos os habitantes, inclusive dos centros urbanos.

Zé Majestade também explicou de forma direta que atividades como a exploração ilegal de madeira apenas são lucrativas devido à boa e velha lei do mercado: se tem alguém querendo comprar, vai ter alguém vendendo. Consumidores nos centros urbanos em geral não se interessam em saber a origem daquela madeira da qual foi feito o produto que estão comprando. Normalmente nós olhamos apenas uma informação, o preço. E o preço é mais alto do que imaginamos.

Zé considerava as árvores suas irmãs. Dizia que ver uma delas sobre o caminhão, indo para uma serraria, era como ver o cortejo fúnebre de seu ente mais querido. Além da sabedoria inata e do coração de ouro, Zé veio ainda com algo mais. Veio ao mundo com uma coragem indestrutível e uma força de vontade inquebrantável.

Essa mistura forjou aquele que para mim e para muitos outros pode ser considerado como o Chico Mendes moderno. Zé tornou-se um defensor ativo da floresta. Fazia questão de denunciar carvoeiros e madeireiros ilegais, principalmente os que insistiam em entrar na reserva extrativista Praia Alta Piranheira e fazer tombar os gigantes da floresta. Levava os fatos à polícia, aos promotores. Semeava verdade e colhia ameaças.

Cada vez mais inimigos brotavam ao seu redor e, naquela noite, Zé disse que apesar das ameaças constantes por parte dos madeireiros, não se calaria. Eu, na minha ingenuidade, disse a ele com um sorriso no rosto que faríamos sua luta voar pelos quatro cantos do mundo através de sua palestra, que seria postada na internet. Disse a ele que seu destino seria diferente do de Chico Mendes, pois atrairíamos atenção à região, que o governo não poderia ignorar a situação, que a comunidade internacional faria pressão para algo ser feito a respeito.

E sua palestra foi ao ar. E foi legendada. E enviamos pelo céu da internet. E escrevemos sobre ele em sites internacionais.

Sete meses depois, na manhã de 24 de Maio de 2011, Zé Majestade e Maria do Espírito Santo foram assassinados em uma emboscada covarde. Mais um gigante da floresta tombou, e naquela manhã, sei que a a castanheira majestade chorou.

Conheci pouco o Zé, mas não consigo parar de pensar em tudo. Meu coração está aos pulos, revejo a palestra e não acredito que perdemos essa criatura incrível. E que "eles" estão ganhando – a corrupção, a ignorância, o tráfico de fauna, armas, drogas, os madeireiros, eles estão ganhando. E Zé e Maria se foram. Tiros de escopeta, orelhas cortadas... os dois ao lado de uma grande árvore. E as castanheiras continuam a ser derrubadas e a soja continua a ser plantada, o gado criado, as matas ciliares sumindo e o carvão queimando. Doi pelo homem e pela mulher que se foram, doi pelos ativistas, pelos educadores, pelas pessoas de bem que eram, doi pelo medo e dor que devem ter sentido, dói por dentro e por fora, dói de revolta e de dor. Dói de indignação, doi de todo o jeito e não cura.

As pessoas continuam comprando produtos sem saber sua procedência e o governo continua ausente, servindo aos interesses do poder e do dinheiro. Todos nós temos o sangue de Zé e Maria em nossas mãos.

Uma propaganda genial



A campanha desenvolvida pela agência Young & Rubicam para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é genial. “Você tem mais sangue do que precisa. Doe um pouco!”, é o mote da campanha. As imagens utilizadas (há mais dois cartazes como este) dizem tudo. Quem nunca se pendurou de cabeça para baixo e sentiu o sangue acumulado na cabeça? O conceito é simples, a mensagem direta e o resultado pega na veia. Perfeito.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

NASA encontra 17 novas pirâmides enterradas no Egito

Uma equipe de arqueólogos descobriu 17 pirâmides enterradas no Egito com a ajuda de imagens de satélites da NASA, segundo um documentário da BBC que será transmitido na próxima segunda-feira. Liderada pela pesquisadora americana Sarah Parcak, da Universidade do Alabama em Birmingham, a equipe já confirmou a existência de duas das pirâmides por meio de escavações.

A BBC, que financiou a pesquisa, divulgou nesta semana as descobertas antes de ir ao ar o documentário intitulado "As Cidades perdidas do Egito", que descreve os resultados e as técnicas utilizadas. "Eu não podia acreditar na descoberta", disse Parack, citada pela BBC. "Escavar uma pirâmide é o sonho de todo arqueólogo", afirmou.

A equipe de pesquisa também encontrou mais de mil tumbas e três mil câmaras, segundo o relatório. Imagens em infravermelho captadas pelos satélites a 700 km de altura revelaram a presença das estruturas abaixo da terra. Os satélites utilizaram poderosas câmeras que podem "localizar objetos com menos de um metro de diâmetro na superfície da Terra", aponta o informe da BBC. A densidade das construções de tijolos de barro colaborou com a tecnologia, pois foi possível ver claramente o contraste sob a camada menos sólida de terra. (Informações do JB)

Emergentes não deviam querer comandar o FMI

Por tudo o que o Fundo Monetário Internacional-FMI representa, não acho que os países emergentes devam disputar o seu comando, em substituição a Strauss-Khan. Mesmo porque, os agora “emergentes” já foram tratados como “submergentes” pela instituição, que sempre foi usada de chicote de domador contra eles. Agora querem comandar aquilo? Para usar o chicote contra quem? A senhora Christine Lagarde deve comandar o FMI. Quanto aos “emergentes”, fiquem longe! Vocês sabem o gosto amargo do remédio.

Foi-se o kit, mas o tema permanece







A presidenta Dilma Rousseff vetou o programa do Ministério da Educação chamado de “kit gay” pelos opositores, que são principalmente a barulhenta bancada evangélica e o deputado Jair Bolsonaro. Segundo os noticiários, Dilma não gostou dos vídeos, achou o material inadequado, e determinou que não circulassem oficialmente.

Como você pode ver nos vídeos, o foco do material do MEC está um tanto quanto forçado. Dilma agiu corretamente ao julgar que era preciso mais tempo para buscar uma abordagem melhor do tema. Está faltando pedagogia

Os “bolsonaristas” podem até achar que ela tenha cedido ao barulho deles e que, portanto, devem continuar com a sua luta discriminatória e fundamentalista, porque estão ganhando.

O material foi considerado “inadequado” pela presidenta, o que quer dizer que deve ser melhorado. Sinceramente, não era o caso de o Jean Wyllys pedir que a comunidade gay deixe de votar na Dilma. O próprio Jean sabe que aquela turma é incendiária e absolutamente insana. Por isso, muita calma nessa hora...

O assunto não está encerrado, porque o bullying (entre suas muitas variantes também está a homofobia) é uma realidade terrível no ambiente escolar – até de parte de professores, como se viu recentemente. Um pouco mais de respeito pelo outro é o que se espera de qualquer cidadão responsável e esta é uma postura que deve ser ensinada em casa, mas também na escola e até na igreja.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A homofobia e a graça de Deus


Se o medo das igrejas com relação à lei que pretende tornar a homofobia crime é em relação à perda da liberdade de pregar que a homossexualidade é pecado, o foco está distorcido desde o princípio. Especialmente para os evangélicos, cujas raízes teológicas estão na Reforma, o discurso de pregar sobre uma lista de coisas que são pecados está fora de foco.

A redescoberta (Lutero, por exemplo) da graça de Deus como ato libertador não está presa a uma lista. Ela revela a condição humana. Diante de Deus o ser humano não é a sua lista de pecadinhos e pecadões, mas é simplesmente pecador. Eu não estou em pecado por isso ou aquilo, mas eu sou pecador. É a minha condição, independente se eu estou numa prisão de segurança máxima ou sou o pastor da minha igreja.

Diante deste preceito teológico fundamental, não concebo as igrejas anunciando que isso ou aquilo é um pecado a ser destacado. Por que o homossexualismo deveria encabeçar esta lista? O que é feito da prevaricação, da corrupção, da usura, da inveja, do ódio, da preguiça e de outras listas já rejeitadas no passado? Como agora pretendem ressuscitar uma lista de pecados, só para fundamentar sua indisfarçada homofobia? Por que não dizem de uma vez que em sua igreja os homossexuais estão fora e pronto? Que não há lugar para pastores gays ou pastoras lésbicas, que nela presbítero bicha não tem a mínima chance e que entre seus fiéis somente haverá viados que não saem do armário por medo de perderem a “graça” de seus pastores?

A estreiteza teológica evangélica de pastores como Silas Malafaia e Julio Severo – porque não entenderam a profundidade do perdão oferecido pela graça divina e continuam promovendo listinhas de pecados – só faz despertar o ódio e o preconceito. Eles não estão ajudando a garantir a liberdade de pregar o evangelho. Eles estão prejudicando a imagem pública da igreja e detonando a moral dela como instituição em condições de anunciar a graça e de denunciar o preconceito.

E para não ficar só jogando pedra no terreno do vizinho, lamento que a direção da IELB – a Luterana Missouri, onde tenho amigos e teólogos que respeito e admiro – tenha assumido este discurso como seu. A teologia da graça de Deus, tão fartamente abordada e apaixonadamente defendida por Martim Lutero, não merece este golpe abaixo da linha de cintura. A IELB até tentou passar uma cerinha no discurso, incluindo-o no seu propósito missionário de levar Cristo Para Todos (e, por conseguinte, também aos homossexuais). Fazem diferença entre o pecado do homossexualismo e o ser humano homossexual, que afirmam amar – desde que abandone o homossexualismo e se torne um ser humano adaptado à sua interpretação da Bíblia.

Ainda aguardamos uma posição da nossa IECLB e espero, com ardor, que não se una assim, de pronto, a este discurso anulador da graça.

Quem quiser interpretar de forma tão fundamentalista o Antigo Testamento, tem que fazer retornar muito mais leis ao nosso moderno código penal do que a condenação do homossexualismo. O Antigo Testamento tem diversas leis sobre pecados que devem ser condenados com o apedrejamento, com o corte da mão ou a extração de um olho. Há leis sobre usura, impureza e tantas outras, que fariam voltar uma antiga discussão que me parecia já resolvida nos tempos do Apóstolo Paulo. Se a lei que isola o homossexualismo como um pecado especial está em vigor, também essas outras continuam valendo. Ou então, caras igrejas oriundas da Reforma, a graça de Deus é a única que vigora. Ou continuamos na busca desesperada pela perfeição, aquela que quase levou Lutero à loucura? Eu opto pela graça e, na visão de que somos pecadores e não portadores de uma lista de pecados versus bom-mocismo, homofobia deve ser enquadrada como crime.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Um herói completa 70 anos





O vento, ah, o vento! Por onde ele passa, leva embora as respostas. Muitas perguntas ficaram desnudas, sem saber onde esconder-se, depois que o vento passou. Quase cinco décadas depois, ele continua levando as respostas das perguntas mais cruciais da existência humana sobre este planeta.

A humanidade continua seguindo estradas e mais estradas, a maioria por caminhos tortuosos e erráticos, buscando respostas que não encontra; que teimam em ser levadas pelo vento, qual folhas de outono. Continuamos agindo qual crianças, perdidas em meio ao absurdo da vida, como folhas ao vento... como respostas que desaparecem, voando, voando...

As balas de canhão continuam voando, muitas e muitas guerras depois do Vietnã. Não há paz. Ela é volátil, de durabilidade efêmera.

Ainda não somos livres, depois das incessantes buscas dos anos 60, 70, 80 e 90. Não somos livres em pleno século 21. Antes prisioneiros de tantas angústias pessoais e intransferíveis, agora somos escravos da tecnologia, por não sermos capazes de dar um passo sequer sem ela. Quando vamos finalmente ser livres? “The answer, my friend, is blowin’ in the Wind...”

Hoje, 24 de maio, Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan, completa 70 anos. Ele levantou todas as nossas perguntas e profetizou que absolutamente todas elas ficariam sem respostas, que seriam levadas pelo vento.


Na década de 1960, Dylan foi um dos ícones dos protestos pelos direitos civis com músicas como “Blowin in the Wind” e “Masters of War”. Dylan já gravou mais de 45 álbuns, e recebeu o título de 2º melhor artista de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Entre os diversos artistas que foram influenciados por Dylan estão os Beatles, The Byrds e o brasileiro Raul Seixas.

Parabéns, Dylan. Você é a prova de que Cazuza desta vez estava errado, porque os nossos heróis não morreram de overdose. Eles estão completando 70 anos, um após o outro. E continuam nos dizendo que não conseguimos dar respostas às perguntas mais importantes que temos levantado enquanto envelhecemos...

domingo, 22 de maio de 2011

Ha muito a fazer pela paz


Quando vejo como tratam a paz, eu não consigo ficar em paz. O que entendemos, quando colocamos esta palavra em nossa boca? Que tipo de imaginário aquece as turbinas do jato da nossa mente quando fazemos essas três letrinhas decolarem do aeroporto da nossa imaginação?

Quando a palavra é evocada como lenitivo para as nossas tribulações pessoais, como vemos? “Deixe-me em paz!”, que conotações desperta em nós? E se eu não deixar você em paz, o que você vai fazer, vai iniciar uma guerra? Em nome da sua paz, você é capaz até de começar um conflito?

É quase sempre assim que começam as guerras: “Deixe-me em paz!” Mas também é quase sempre com essas mesmas palavras que uma vítima agredida tenta livrar-se de seu agressor. É um pedido de socorro, uma ordem gritada por quem não está em posição de dar ordens. É o anúncio desesperado de alguém que diz que estão quebrando a sua tranquilidade, transformando a sua vida num campo de batalha.

Que sentimento desperta a palavra paz em nossas mentes neste dia 22 de maio, quando o Conselho Mundial de Igrejas encerra oficialmente o Decênio para Superar a Violência no nosso mundo? Afora a estúpida paixão da humanidade pelas guerras – sim, porque nesses dez anos (3.652 dias e meio!) nenhum deles houve sem alguma guerra –, o que nos toca ao pronunciar “paz”?

Continuamos elevando a Deus as nossas orações por paz. Queremos paz entre os tantos países em guerra ou vivendo uma guerra fratricida interna. Queremos paz entre as religiões. Queremos paz entre ricos e pobres, grandes e pequenos, fortes e fracos, opressores e oprimidos, governantes e governados, homens e mulheres... Há tantos ambientes em que reina o conflito, a divisão, a diferença, o medo, a perseguição.

A paz se vai especialmente entre nossas quatro paredes, que tudo escondem de todos os olhos e tudo abafam de todos os ouvidos. Sabemos exatamente o que se passa atrás das quatro que nos ocultam do mundo, mas quase nada sabemos sobre as milhares de quatro paredes que escondem as manchas roxas de milhares de pequenos e pequenas, as marcas da violência de subjugados e subjugadas, as marcas no fundo das almas de milhões de abusados e abusadas sexualmente, moralmente, psicologicamente, socialmente... Mal nos damos conta. Mal queremos nos dar conta.

Continuamos pedindo por paz, porque nos negamos a crer que somos incapazes de construir um mundo sem violência, sem ódio, discriminação ou vingança. Continuamos orando por paz, porque nos sentimos motivados por aquele que trouxe paz ao mundo. Todas as guerras movidas em seu nome são uma vergonha. Todo o ódio que gerou a simples pronúncia do seu nome são a prova de que não o entendemos, nem depois de dois mil anos e de milhões de livros sobre o seu pensamento.

Mas a nossa oração não pode nos encontrar em posição introspectiva; nem deve manter nossas mãos inertes e mentes opacas. A paz não cai do céu de onde a pedimos; ela é erguida com muito trabalho, muita conversa, muita ação positiva e proativa. Não basta que oremos por paz; precisamos construí-la e mantê-la. Não basta que oremos para que cesse a violência; precisamos superá-la em nossas relações; extirpá-la de nossas negociações e renega-la em nosso convívio social. Depois de uma década de muito esforço e pouco resultado concreto, o esforço de todos nós deve continuar firme, sem esmorecer, para que a paz finalmente triunfe e o desejo de que espadas se transformem em arados e lanças em podadeiras seja muito mais do que apenas um bonito versículo bíblico.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

He Qi, o pintor da Bíblia


O pintor chinês He Qi viu a face de Jesus pela primeira vez numa revista antiga. Agora ele pinta suas próprias representações das histórias bíblicas. “Obras de arte não têm laços nacionais, mas o artista sempre tem a sua nacionalidade”, diz He Qi (pronuncia-se Ho-chee). Um artista que se tornou cidadão do mundo, ele preferiu continuar vivendo em seu país de origem. Durante a Revolução Cultural, ele pintava quadros de Mao, quando viu a Madona de Rafael numa velha revista. “Eu fui tocado pela suavidade do sorriso da virgem”, diz ele. Mas a obra de Rafael fez mais do que convertê-lo ao cristianismo. Capturou a sua imaginação criativa. “Há duas maneiras diferentes de ser cristão na China. Uma é pela forte influência vinda da base familiar; a outra é por sua livre escolha, passo a passo. Eu fui pela segunda via”, relata ele.

O Dr. He Qi é professor no Seminário Teológico Unido, em Nanjing-China, e tutor de candidatos a estudante no departamento de filosofia da Universidade de Nanjing. Ele também é membro da Associação de Arte da China e membro do conselho da Associação Asiática de Arte Cristã. Desde 1983 o seu desafio é a criação de moderna arte cristã chinesa, na esperança de ajudar a mudar a “imagem estrangeira” sobre o cristianismo na China, usando a linguagem artística e, ao mesmo tempo, incrementar a arte chinesa do jeito que a arte budista fez no passado. Em seus trabalhos, He Qi mistura costumes populares chineses com pintura tradicional chinesa, usando técnicas da idade média e moderna, criando um estilo artístico de pintura sobre papel.

O Dr. He Qi foi o primeiro chinês a defender PhD em arte religiosa depois da Revolução Cultural. Escreveu sua dissertação durante seus estudos no Isntituto de Arte de Hamburgo, na Alemanha, onde também se habilitou na pesquisa em arte medieval. O seu trabalho foi muito bem recebido no outro lado do oceano, com exposições em Kyoto, Hong Kong, Genebra, Hamburgo, Londres, e em diversas metrópoles dos EUA e do Canadá, bem como na própria China. Foi laureado com o prêmio Século 20 de empreendedorismo no campo da teoria de Criação da Arte Religiosa e Cristã, do Centro Biográfico Internacional de Cambridge, Inglaterra. As suas obras de arte foram apresentadas pelos meios de comunicação, como o Washington Post, a BBC, o Asian Week, Sing Tão Daily News e outras publicações.

Mais do que refazer as imagens da arte cristã pela ótica oriental, He Qi é um artista moderno, que reinventou a própria plástica da fé cristã. Suas obras despertam uma nova ótica sobre as histórias mais famosas da Bíblia. Não há como não parar diante de um de seus quadros e meditar, de forma profunda e renovada, sobre o significado da história que representa. A sua obra nos convida a ler as histórias bíblicas com um novo olhar.

Na coluna ao lado, uma pequena amostra do que ele colocou nas suas obras. Mergulhe em sua obra completa, através do site http://www.heqigallery.com/.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um dia contra o abuso sexual contra as crianças


Simbolizando crianças que tiveram sua infância “apagada” pela violência sexual, mais de mil jovens e adolescentes reuniram-se ontem à tardinha, em frente ao Masp, em São Paulo, de camisetas brancas e velas nas mãos. Protestavam contra a exploração sexual de menores. O protesto marcou o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes.

Os protestos aconteceram também em outras cidades, como em Salvador, onde os participantes apagaram uma vela a cada 15 segundos, simbolizando o número de crianças e adolescentes que, segundo estatísticas, são vítimas de abusos no mundo. Todas as velas foram acesas novamente para demonstrar a esperança que ainda existe em diminuir esse número.

Em 2010 foram registrados 12.487 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, segundo dados do Disque 100. O maior número de vítimas de violência sexual é do sexo feminino, representando 78% dos casos.

O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi escolhido em virtude de crime bárbaro ocorrido em Vitória, no Espírito Santo, em 18 de maio de 1973. Aracelli Cabrera Sanches Crespo, 9 anos, foi morta e seu corpo encontrado seis dias depois desfigurado e com sinais de abuso sexual. Os responsáveis pelo crime nunca foram responsabilizados, por se tratar de filhos de pessoas influentes da cidade. A data foi definida a partir da lei nº 9.970, de 17 de maio de 2000. (Com informações da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação-ALC)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vila Sésamo contra a intolerância

Personagens e produtores da Shra’a Simsim em evento de apresentação do programa.

Em meio a um conflito que dura mais de 60 anos, uma nova comitiva chegou para promover a paz entre israelenses e palestinos. Em Israel, Gaza e na Cisjordânia, Garibaldo, Elmo, Ênio, Cookie Monster e sua turma da Vila Sésamo tentam superar as diferenças e transmitir mensagens de paz e tolerância para as crianças do Oriente Médio.

De acordo com a Unicef, as crianças são maioria nas populações dos territórios palestinos e as principais afetadas pelos conflitos. Pensando nisso, a Sesame Workshop – instituição norte-americana sem fins lucrativos que produz o programa – criou o Shra’a Simsim, personalizando as histórias e personagens de acordo com a realidade vivida pelas crianças de ambos os povos. Todo o enfoque do programa foi pensado após extensas pesquisas realizadas com crianças palestinas e israelenses.

Episódios que mostram a necessidade de união de todos para enfrentar catástrofes, ou que falam de superar diferenças religiosas ou de gênero são temas corriqueiros dos programas, que são voltados para as necessidades das crianças israelenses e palestinas, falando de cooperação e aceitação mútua, objetivando fazer as crianças entenderem que em grupo, independente das opções de cada indivíduo, podem causar mudanças positivas nas próprias comunidades.

“Nós acreditamos que a transmissão de mensagens positivas para as crianças, com programas que falem a língua deles, que reflitam a realidade com a qual estão acostumados e que tratem dos problemas que eles enfrentam diariamente, pode trazer sorrisos e, finalmente, a esperança”, disse o diretor do programa. (Com informações do Opera Mundi)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Gente tratada como ratos


por Luana Diana dos Santos

Domingo. Final do campeonato estadual entre o Galo Mineiro, meu time do coração, e o Cruzeiro, nosso maior rival. Enquanto almoçava, acompanhava pelo rádio os últimos detalhes do clássico. A transmissão foi interrompida com a notícia de que moradores de rua do Santa Amélia, bairro de classe média de Belo Horizonte, haviam sido envenenados. Sem acreditar no que acabara de ouvir, acessei a internet na tentativa de descobrir o que realmente havia acontecido. Para minha tristeza, era tudo verdade.

As notícias davam conta de que nove mendigos, entre eles uma mulher, haviam bebido cachaça misturada com chumbinho. Felizmente todos foram socorridos a tempo e não correm risco de morte. Segundo testemunhas, no mês anterior houvera outra tentativa de extermínio. Foi oferecido aos moradores de rua comida envenenada, mas desconfiados, não chegaram a consumir o alimento. No dia seguinte, um cachorro apareceu morto após ingerir a refeição.

Num ano marcado pelas declarações absurdas de Bolsonaro e Rafael Bastos, nenhum fato causou-me tanta consternação quanto o episódio envolvendo os moradores de rua. Alguns podem citar o massacre de Realengo, mas na escola do Rio, ficou comprovado que Wellington de Oliveira, autor dos disparos, possuía distúrbios mentais. O algoz da do Santa Amélia agiu em sã consciência e de forma premeditada.

Não me restam dúvidas de que o autor do crime sabia que o vício de álcool e drogas acomete boa parte daqueles que fazem das ruas sua morada. Um estudo realizado no ano passado pela FIPE – Fundação Instituto Pesquisas Econômicas de São Paulo revelou que 3 em cada 4 moradores de rua consomem entorpecentes. Por muito pouco, não foi um crime perfeito. Até o momento, ninguém foi preso.

Vale lembrar que “caçar” mendigos é uma prática antiga no Brasil. Nos anos de 1930, sob a ideologia do “movimento higienista”, a população de rua foi duramente perseguida. Era preciso dar ao paísl ares europeus, e uma das formas de alcançar tal intento seria confinar a classe pobre em regiões distantes dos centros urbanos. Trazendo a questão para a contemporaneidade, quem não se lembra do índio Galdino, queimado por jovens em Brasília em 1997? Recorri a minha caixa de recortes de jornais, e encontrei uma reportagem da Folha de fevereiro de 2007, onde lia-se: “Praça da República tem bancos antimendingos”. Coisas do Kassab. Serra criou medidas com a mesma finalidade. Somente no ano passado, 32 moradores de rua foram assassinados em Maceió.

Em Belo Horizonte, a população de rua aumenta a cada ano. Pouco se tem feito para solucionar o problema. Não faz muito tempo o jornal Estado de Minas estampou na capa que “os moradores de rua estavam tomando conta da Savassi”. Explico. A Savassi é uma das regiões mais nobres de Belo Horizonte. Daí a preocupação do jornal. Com a proximidade da Copa do Mundo, estejamos preparados para mais faxina nas ruas. As cidades precisarão estar livres dessa gente diferenciada.

A final do campeonato mineiro perdeu toda importância. Passei o dia remoendo esse caso. Fiquei imaginando como uma pessoa oferece veneno à outra, como se estivesse partilhando água ou comida. À noite, ao passar pelas ruas do centro de BH, avistei do ônibus uma fila imensa de mendigos. Recebi um alento. Um casal distribuía sopa para homens, mulheres e crianças. Agora, não me interessa saber se essa atitude é a mais acertada. Fiquei um pouco mais aliviada ao perceber que ainda existem pessoas capazes de enxergar o outro como um semelhante, e não como ratos que precisam ser exterminados.

Luana Diana dos Santos é professora e historiadora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais (Publicado no Viomundo, blog de Luiz Carlos Azenha - http://www.viomundo.com.br/)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A insuperável tecnologia Book


Adorei este vídeo. Toda a parafernália eletrônica, que consideramos tão útil e indispensável, não tem como superar esta tecnologia. Nada interage comigo de forma tão direta, fantástica e próxima. Tem até cheiro. Experimente você também.

sábado, 14 de maio de 2011

Sem preconceito

O reino animal dá mais uma bela lição à humanidade. Este pato, que vagava sozinho pela beira do rio Itajaí-Açu, no centro de Blumenau, sentindo falta de companhia, aproximou-se de um grupo de capivaras, que moram no mesmo "bairro". Resultado, ele foi adotado pelas capivaras e vive feliz no grupo. A notícia inusitada foi publicada no Jornal de Santa Catarina de hoje. A foto é do jornalista fotográfico do Santa (Grupo RBS), Jandyr Nascimento.


quinta-feira, 12 de maio de 2011

Crianças são as maiores vítimas

Uma inundação colocou um quinto do Paquistão debaixo d'água. As crianças são as principais vítimas

Segundo a UNICEF, nos últimos 20 anos o número de catástrofes naturais não parou de crescer no planeta. Aumentaram de 250 em média ao ano nos anos 90 para quase 400. Segundo a entidade das Nações Unidas voltada para as crianças, mais de 200 milhões de pessoas foram diretamente afetadas por inundações, secas ou temporais, especialmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.

Os dados revelam que pelo menos a metade desses afetados é constituída de crianças. Elas são mortas, feridas ou sofrem o efeito de doenças oriundas da subnutrição, da água contaminada e de péssimas condições de higiene. Os meninos e meninas que sobrevivem às catástrofes são duramente atingidos, é o que revela o relatório “A situação das Crianças em Regiões em Crise 2011”, da UNICEF. Nas suas páginas, a realidade de 32 países, dois terços deles no continente Africano.

As catástrofes naturais têm efeitos ainda mais dramáticos nesses países, pois atingem comunidades nas quais há muitas crianças subnutridas, afetadas por doenças dessa realidade e que moram em condições precárias. Exemplos dramáticos disso são as inundações no Paquistão e o terremoto no Haiti, onde 50 por cento das crianças não freqüentavam a escola e 40 por cento sequer tinham acesso a latrina, já antes do terremoto.

Em torno de 70 por cento das catástrofes hoje têm origem no clima, o que no início do milênio era de apenas 50 por cento. Segundo a UNICEF, a taxa tende a crescer nos próximos anos, levando anualmente 175 milhões de crianças a sofrer sob as conseqüências dos fenômenos climáticos (66 milhões nos anos 90).

Em função das mudanças climáticas em curso, a UNICEF convoca a comunidade internacional a um maior esforço por auxílio às comunidades ameaçadas pelas catástrofes naturais e a prepará-las melhor para enfrentá-las: ajuda humanitária e projetos de longo prazo para o desenvolvimento precisam andar mais juntos.

Sobretudo, é necessário que sejam desenvolvidos mecanismos urgentes para dar mais proteção às crianças, as maiores vítimas das guerras e das catástrofes. A criação de “ilhas de normalidade” para abrigá-las em situações de catástrofe é prioridade absoluta. Elas precisam de espaço para brincar, estudar e se desenvolver. A dignidade é o melhor caminho para o desenvolvimento, começando por vida digna para as crianças.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

De Nobel para Nobel


Reproduzo, a seguir, a carta escrita por Adolfo Perez Esquivel (Nobel da Paz de 1980) a Barak Obama (Nobel da Paz de 2010).

Estimado Barack, ao dirigir-te esta carta o faço fraternalmente para, ao mesmo tempo, expressar-te a preocupação e indignação de ver como a destruição e a morte semeada em vários países, em nome da “liberdade e da democracia”, duas palavras prostituídas e esvaziadas de conteúdo, termina justificando o assassinato e é festejada como se tratasse de um acontecimento desportivo.

Indignação pela atitude de setores da população dos Estados Unidos, de chefes de Estado europeus e de outros países que saíram a apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado por teu governo e tua complacência em nome de uma suposta justiça. Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes supostamente cometidos, o que gera maior dúvida: o objetivo foi assassiná-lo.

Os mortos não falam e o medo do justiçado, que poderia dizer coisas inconvenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa que incrementá-la.

Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeste deves colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”.

No entanto, em vez disso, tu incrementaste o ódio e traíste os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fizeste nada disso. Pelo contrário, decidiste começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAM e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes.

A base fundacional da ONU é a defesa e promoção da paz e da dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: “Nós os povos do mundo...”, hoje ausentes deste alto organismo.

Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsemani, em Kentucky, Tomás Merton, que diz: “a maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.

Tu eras muito jovem, Barack, durante a guerra do Vietnã e talvez não lembres a luta do povo norteamericano para opor-se à guerra. Os mortos, feridos e mutilados no Vietnã até o dia de hoje sofrem as consequências dessa guerra.

Tomás Merton dizia, frente a um carimbo do Correio que acabava de chegar, “The U.S. Army, key to Peace” (O Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem a paz”.
Acompanhei e compartilhei com os veteranos da guerra do Vietnã, em particular Brian Wilson e seus companheiros que foram vítimas dessa guerra e de todas as guerras.

A vida tem esse não sei o quê do imprevisto e surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade e que devemos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, reestabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra.

Se não reagirmos para mudar a situação atual de soberba suicida que está arrastando os povos a abismos profundos onde morre a esperança, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor. Tu sabes que a esperança é como o lótus que cresce no barro e floresce em todo seu esplendor mostrando sua beleza.

Leopoldo Marechal, esse grande escritor argentino, dizia que: “do labirinto, se sai por cima”.

E creio, Barack, que depois de seguir tua rota errando caminhos, encontras-te em um labirinto sem poder encontrar a saída e te enterras cada vez mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado pelas grandes corporações, pelo complexo industrial militar, e acreditas ter todo o poder e que o mundo está aos pés dos EUA porque impõe a força das armas e invade países com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.

As atrocidades cometidas por teu país no mundo são tão grandes que dariam assunto para muita conversa. Isso é um desafio para os historiadores que deverão investigar e saber dos comportamentos, políticas, grandezas e mesquinharias que levaram os EUA à monocultura das mentes que não permite ver outras realidades.

A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gêmeas, o identificam como o Satã encarnado que aterrorizava o mundo e a propaganda do teu governo o apontava como “o eixo do mal”. Isso serviu de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar necessitava para vender seus produtos de morte.

Tu sabes que investigadores do trágico 11 de setembro assinalam que o atentado teve muito de “auto golpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévio de escritórios das torres; atentado que deu motivo para desatar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão, argumentando com a mentira e a soberba do poder de que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da “liberdade e defesa da democracia”, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são “danos colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Bagdá, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico e no refúgio de crianças que foram vítimas desses “danos colaterais”.

A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte” e que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não trato de justificá-lo sob nenhum conceito, sou contra todas as formas de terrorismo, desde a praticada por esses grupos armados até o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para manter-se pelo terror no eixo do poder mundial. Há um só eixo do mal? Como o chamarias?

Será que é por esse motivo que o povo dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles que chamam de “eixo do mal”? É simplismo e hipocrisia querer justificar o injustificável.

A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio à consciência da humanidade, seu caminho é trabalhoso, cotidiano e portador de esperança, onde os povos são construtores de sua própria vida e de sua própria história. A Paz não é dada de presente, ela se constrói e isso é o que te falta, meu caro, coragem para assumir a responsabilidade histórica com o teu povo e com a humanidade.

Não podes viver no labirinto do medo e da dominação daqueles que governam os EUA, desconhecendo os tratados internacionais, os pactos e protocolos, de governos que assinam mas não ratificam nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas pretendem falar em nome da liberdade e do direito. Como podes falar de Paz se não queres assumir nenhum compromisso, a não ser com os interesses de teu país?

Como podes falar da liberdade quanto tens na prisão pessoas inocentes em Guantánamo, nos EUA e nas prisões do Iraque, como a de Abu Graib e do Afeganistão?

Como podes falar de direitos humanos e da dignidade dos povos quando violas ambos permanentemente e bloqueias quem não compartilha tua ideologia, obrigando-o a suportar teus abusos?

Como podes enviar forças militares ao Haiti, depois do terremoto devastador, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?

Como podes falar de liberdade quando massacras povos no Oriente Médio e propagas guerras e tortura, em conflitos intermináveis que sangram palestinos e israelenses?

Barack, olha para cima de teu labirinto e poderás encontrar a estrela para te guiar, ainda que saibas que nunca poderás alcançá-la, como bem diz Eduardo Galeano. Busca a coerência entre o que dizes e fazes, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.

O Nobel da Paz é um instrumento a serviço dos povos, nunca para a vaidade pessoal.

Te desejo muita força e esperança e esperamos que tenhas a coragem de corrigir o caminho e encontrar a sabedoria da Paz.

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.
Buenos Aires, 5 de maio de 2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

Dramático final para Gunter Sachs


O Playboy ao lado de Brigitte Bardot e, acima, já em idade avançada.

Para os mais jovens, o nome de Gunter Sachs não tem nenhum significado. Não que tenha um significado especial para mim, mas ele marcou a minha juventude. Ele estava em todas as revistas e jornais dos anos 60 e 70. O empresário alemão, rico e charmoso, vivia rodeado de belas mulheres e jogava dinheiro pela janela. Era figura carimbada do jetset europeu. Entre outras proezas do playboy, ele desfilava com ninguém menos que Brigitte Bardot a tiracolo. Havia se casado com a maior estrela do cinema internacional da época, a deusa loira, a mulher que habitava os sonhos mais deslumbrantes da maioria dos homens do planeta à época. Enquanto sua família enchia a conta bancária, ele era galanteador, socialite, bon vivant, fotógrafo e famoso colecionador de arte. E mulherengo. Principalmente, mulherengo. O casamento com Bardot durou pouco. Enquanto ele desfilava seu cobiçado diamante loiro, não perdia a oportunidade de um galanteio. A separação foi assunto de capa de todas as revistas do mundo e rendeu longas e escandalosas reportagens, por semanas a fio. O resumo da ópera é que ele não era nenhum exemplo para ninguém, mas não saía das páginas das principais revistas da época.

Você estará se perguntando o que Gunter Sachs estaria fazendo neste blog, depois de tanto tempo. Vou ser sucinto: todo este glamour acabou dramaticamente no dia de ontem, 9 de maio de 2011. Aos 78 anos de idade, já vivendo em completo isolamento e com raras aparições públicas, Gunter Sachs pôs fim à própria vida. Deu um tiro na cabeça. O gesto radical por si só se explicaria como uma saída desesperada de uma vida que, longe dos holofotes, perdeu o sentido.

Mas o motivo é ainda mais dramático e, de certa maneira, lança os flashes e holofotes do passado glorioso de Gunter Sachs na direção de um futuro que pode alcançar muitos de nós na velhice, e que tem jogado cada vez mais idosos, ao redor do planeta, num abismo escuro, frio e solitário: o Mal de Alzheimer.

Com o diagnóstico lançado sobre suas cãs, Gunter Sachs não via mais saída. Ele a chamava de “a doença A.”, cujos dramáticos sintomas iam se instalando implacavelmente na vida do ex-playboy. “Hoje ainda não constato, de modo algum, falhas ou retrocessos no meu pensamento lógico”, escreveu Sachs em sua carta de despedida. Mas um esquecimento crescente e uma rápida piora de sua capacidade de memorização e redução do vocabulário, que já se manifestava em constrangedoras buscas pelas palavras em conversações com os amigos. Uma catástrofe para Sachs, pois “tal ameaça já era desde sempre meu único critério para pôr um fim à minha vida”. Um único tiro consumou o ato final.

Pouca gente radicaliza sua relação com o Mal de Alzheimer da forma como o fez o ex-playboy, mas a demência provocada pela doença incurável e devastadora ataca cada vez mais pessoas, famosas ou não. Segundo os especialistas, 35 milhões de pessoas ao redor do mundo convivem com os sintomas da doença que mata os neurônios pouco a pouco e vai apagando habilidades, conhecimento, memória e a própria identidade da cabeça das pessoas. O número dos afetados cresce assustadoramente e, por ora, ninguém no mundo pode fazer qualquer coisa para deter o avanço do mal. Os cientistas calculam que haverá 115 milhões de dementes no ano de 2050, por causa do Mal de Alzheimer, o que é uma verdadeira epidemia.

A única saída é o diagnóstico precoce, mas apenas como possibilidade de adiar por alguns anos o total estado de dependência do doente. Um verdadeiro drama humano, que afeta profundamente o doente, mas também todas as pessoas das suas relações.

Cuidar de uma pessoa afetada cobra um alto preço e arranca até as últimas forças que somos capazes de juntar para continuar vivendo. É necessário cuidar dela 24 horas por dia, pois perde a noção de tempo e espaço e a própria consciência de que é um ser humano, perdendo inclusive a biografia. Ainda por cima, pode tornar-se extremamente agressivo e antissocial. A grande maioria dessas pessoas recebe cuidados em casa e, quase todas, ao longo de muitos e muitos anos.

Por tudo isso e com tal perspectiva, o desesperado ato de Gunter Sachs pode até não ser aceitável, mas é, sim, compreensível. Se a sua vida não foi muito edificante, a sua morte chama atenção sobre o grande mal da era do prolongamento da vida humana, que faz o corpo resistir mais do que a mente. A pergunta que não quer calar é se toda essa desesperada busca pela vida eterna e pela juventude permanente do corpo tem algum propósito, afinal...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Somos todos reféns do petróleo


O petróleo é o grande vilão ambiental. Ele e todos os seus derivados, que são tantos que não tenho certeza de conseguir enumerar ao menos a metade deles. Vivemos em plena era do petróleo, e somos tão dependentes dele que hoje absolutamente tudo o que manuseamos no nosso dia a dia tem a implacável presença do óleo negro que nos veio de herança de eras jurássicas. Tudo estava lá, soterrado, no fundo do planeta, e nós trouxemos à tona, à luz do dia, para o meio do mundo atual, a sobra de um mundo que mal sabemos como foi.

Atrás dele vamos cada vez mais fundo no planeta. Por causa dele vamos à guerra. Em nome dele construímos a nossa civilização. E a nossa civilização não sobrevive sem ele. Por mais que falemos em energias alternativas, o petróleo é tudo, está em tudo e nada lhe escapa. A humanidade é refém incontornável do óleo negro das profundezas. Sabemos o mal que ele causa, mas não sabemos mais viver sem ele. Como saúvas desesperadas, depois de cortarem todas as folhas do entorno do formigueiro, vamos cada vez mais longe, em busca de novos arbustos para desnudar.

Nos primeiros tempos, o uso do petróleo em larga escala até que teve um impacto ambiental positivo, pois a matança de baleias caiu drasticamente. Os enormes mamíferos marinhos viravam toneladas de óleo para lampiões e lamparinas, que agora podiam ser abastecidas com querosene.

Não vou tentar fazer uma lista, porque hoje o seu uso vai muito além do da iluminação, do combustível para o transporte coletivo e individual e dos plásticos. Um site americano chegou a listar quase dois mil produtos de uso cotidiano que não poderiam ser feitos sem o petróleo. Entre eles a aspirina, o capacete de motociclista e o paraquedas. Sem o petróleo, produzir essas coisas teria um custo elevadíssimo.

A era do Petróleo está muito longe de acabar. “Será impossível viver sem petróleo ainda por muito tempo”, diz Carlos Alberto Lopes, diretor da GasEnergy, que foi por décadas funcionário da Petroquisa, subsidiária petroquímica da Petrobrás.

A cada dia se descobrem novos usos para as fibras sintéticas oriundas do petróleo, novos usos para seus múltiplos elementos químicos, que têm as moléculas quebradas pelo calor para dar origem a outro elemento, outro produto, milhares deles. A maioria desses usos é nobre, pois eles aumentam o nosso conforto, o nosso bem estar, a nossa saúde.

Para ficar só num exemplo, o famoso analgésico AAS (ácido acetilsalicílico), base de todos os medicamentos para combater a dor de cabeça e primeiro remédio produzido em escala industrial (pela Bayer, na Alemanha), contém o Fenol, elemento químico que sai do Cumeno, derivado do Benzeno, que saiu da Nafta, que saiu do óleo original, o petróleo.

De resto, é só ficar atento e olhar em volta. Dentro de casa, nos objetos, nas paredes, no assoalho, no teto, nos fios, nas tintas, nos canos, nos detergentes, nos armários, eletrodomésticos, nos objetos mais simples, como um saco plástico ou nas coisas bonitas, como um daqueles vestidos dos desfiles de alta costura. Tudo tem PET, PVC, poliéster, polipropileno, polietileno, náilon, solvente, resina.

Popularmente, todos esses nomes se resumem ao plástico. Hoje em dia, se produzem plásticos tão duros quanto o aço e tão transparentes quanto o vidro, e com grande economia de energia de produção na comparação. O farol dos automóveis hoje é feito de policarbonato, não de vidro. A indústria petroquímica perpassa quase todas as demais indústrias com seus insumos: de fertilizantes, plásticos, fibras químicas, tintas, corantes, elastômeros, adesivos, solventes, tensoativos, gases industriais, detergentes, inseticidas, vacinas animais, explosivos, na construção civil, nas telecomunicações, médico-hospitalar, distribuição de energia e outras centenas de segmentos.

O grande problema da indústria petroquímica é ter como insumo básico um bem finito, o petróleo, fato que a torna insustentável no tempo. Além disso, é altamente poluente. Apesar dos avanços e das pesquisas, considerando apenas os plásticos, somente 15% do total produzido é reciclado. O resto vai para o lixo. Pratos, canetas, bijuterias, espuma, embalagens a vácuo e fraldas descartáveis, entre outros, ainda não são reciclados.

A reciclagem do plástico exige cerca de 10% da energia utilizada no processo primário. Uma série de produtos pode ser fabricada com resíduos plásticos, como cabides, pentes, garrafas, frascos, baldes, cerdas de escovas de dente, vassouras e painéis para a construção civil, entre outros. Tudo deveria ser reciclado, mas falta dinheiro, falta cultura. (Com informações de Carta Capital)

Nessas poucas linhas descobrimos que a humanidade está numa verdadeira sinuca de bico. Absolutamente todos os avanços que verdadeiramente podem ser assim chamados, nesses tempos de transformações que sequer podem ser acompanhadas, dependem do milagroso óleo que queremos substituir. Impossível falar em sustentabilidade num ambiente totalmente insustentável, do qual todos nós fazemos parte, queiramos ou não.

Por isso, essa insistência da indústria automobilística em falar de carros elétricos, ecologicamente corretos e todo esse discurso, é um grande engodo. Que diferença faz a bateria num veículo cujas outras peças dependem todas da indústria química que, por sua vez, depende do petróleo? Reféns. Somos todos reféns. Mais do que temer a poluição que o petróleo causa, tememos o dia em que nos digam que ele acabou.

Será um dia terrível para a humanidade. Ou você, em sã consciência, conseguiria viver sem absolutamente nenhum produto sintético, provido pelos milagres da indústria petroquímica? Pare para pensar e você descobrirá, em poucos segundos, que teremos que voltar o relógio do desenvolvimento em pelo menos uns 300 anos... De tudo aquilo que me cerca nesta mesa, sinceramente, nada restaria. Desconcertante!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Solução sem tiros


O capitão Nascimento, herói do cinema brasileiro promovido a coronel em “Tropa de Elite 2”, será uma das estrelas da campanha do desarmamento, que começa hoje em todo o País. Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, emprestou a voz ao vídeo da campanha, de 30 segundos, que será divulgado nas emissoras de rádio e televisão. A coleta de armas se estenderá até 31 de dezembro e o governo vai pagar de R$ 100 a 300 por arma devolvida, conforme o calibre.

O filme usa imagens da campanha de 2009, que mostra a trajetória de uma bala perdida, passando de raspão ao lado de crianças que brincam num parque, populares nas ruas. Moura dirá, com a firmeza de comando de seu personagem, que “não é à bala que se resolvem as coisas”. O slogan da campanha é “Tire uma arma do futuro do Brasil”.

A campanha, a terceira desde 2004, foi lançada hoje, em solenidade na Prefeitura do Rio, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o governador do Estado, Sérgio Cabral, e o prefeito Eduardo Paes, além de representantes dos entidades parceiras, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e as ONGs Viva Rio e Instituto Sou da Paz. A segunda parte do evento foi a incineração de mil armas apreendidas, no forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ressaca legal


Alguns dias depois do assassinato de Osama Bin Laden, o mais mítico e procurado terrorista do planeta, a euforia inicial vai dando lugar a uma ressaca legal. Várias personalidades, das quais se esperava uma posição mais sóbria, andaram escorregando no perigoso terreno da alegria temerária do sucesso da vingança; entre elas Angela Merkel e o próprio Papa Bento XVI. Ambos manifestaram estar contentes com o sucesso da caçada. E não foram somente eles...

O fato é que, nos bastidores, todo mundo sabe que os EUA ultrapassaram os limites, mas ninguém tem coragem de dizer isso abertamente. Os americanos podem até argumentar, com sua velha retórica de guerra, que estavam agindo em legítima defesa. Mas a crua realidade é que eles infringiram claramente o direito internacional.

Por invadirem um país estrangeiro sem autorização deste; por executarem um ataque militar num país com o qual não estavam oficialmente em guerra; por executarem a sangue frio um cidadão que, segundo as leis internacionais em vigor, deveria ser capturado e levado diante de um tribunal para ser julgado; e, por fim, por empreenderem uma caçada fora do território americano a um condenado por crime cometido dentro dos EUA (o ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001).

Não importa quem era e o que fez Bin Laden. As regras do jogo são claras e deveriam valer para todos. Inclusive para os EUA. Amanhã ou depois, eles resolvem invadir a Inglaterra para colocar fim a Julian Assange; sem julgamento ou captura... um simples tiro no meio da testa... sem perguntar nada a ninguém. E, quem sabe, ainda, depois de amanhã façam o mesmo com Chávez, ou com qualquer cidadão brasileiro que considerem uma ameaça à sua segurança.

Qualquer cidadão lúcido do mundo concordará que isso não pode ser assim e que não há nenhuma lei de segurança nacional ou de legítima defesa que justifique tal invasão. Um marido traído que invade a empresa em que trabalha a sua companheira que o traiu para matá-la, será preso como assassino e ninguém aceitará a sua justificativa de que se defendeu da traidora...

E eu esperava que alguma igreja cristã ou entidade cristã viesse a público para dizer isso. Mas ninguém veio. Nem Roma, nem o CMI, nem a FLM, nem a Igreja Evangélica da Alemanha, a CNBB, o CONIC ou a IECLB. Também na ONU não se levantou nenhuma voz clara contra esse abuso americano. Essa lucidez do direito internacional somente surgiu em mentes ligadas à história, à sociologia e à pedagogia. É uma pena. Alguns até preferiram juntar-se aos que festejavam a morte do terrorista. Nem consideraram que ele foi morto sem direito a defesa, diante da própria filha adolescente e desarmado.

Que ao menos tivessem a lucidez de dizer que a operação contra o terrorista saudita foi um assassinato sumário e como tal não deveria ser comemorado. Mas esse tipo de análise somente ocorreu a pessoas como a historiadora Maria Aparecida de Aquino.

Coloco aspas no que ela escreveu: “No fundo, os americanos pretendem impor ao mundo inteiro uma ideia: de que estão cobertos de razão, de que a humanidade pode respirar aliviada e de que agora estamos livres do mal, já que o mal estava condensado em uma pessoa. Mas isso é uma ilusão de ótica. É como os mágicos fazem: você olha para o outro lado, não presta atenção na prestidigitação que ele está fazendo com as mãos. Não podemos cair nesta história. Isso não significa defender o que aconteceu em 11 de setembro de 2001, que foi um ato terrível e ofendeu a humanidade. Não significa negar o direito da população americana de buscar os culpados. Mas defender a forma como isso foi feito será dar aos Estados Unidos a possibilidade de amanhã entrar em qualquer uma de nossas casas e dizer: ‘olha, imaginei que aqui houvesse um terrorista e andei metralhando’. É muito grave o que aconteceu”.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sombra conscientizadora


A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma das muitas entidades que querem reduzir o desmatamento da floresta amazônica. Uma das formas de envolver mais gente nessa luta, para a FAZ é a divulgação regular de campanhas de sensibilização e a realização de ações conjuntas com o Poder Público.

A mais recente campanha da entidade inovou na forma de chamar a atenção para a destruição da floresta sem apelar para a tradicional forma de culpar as pessoas e a sociedade por isso. Em vez disso, a FAZ aborda o tema apontando para uma das necessidades bem reais dos habitantes das principais cidades brasileiras: a sombra.

Foram selecionados alguns troncos de árvores no centro de São Paulo que haviam sido cortadas. A árvore não está mais lá, porém, adesivada no chão, ela continua projetando a sua sombra, imaginária. Dentro da sombra colada no chão, a mensagem que ressalta a luta da associação: “Todos gostam de sombra. Mas poucos cuidam das árvores.” Gênio!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Uma montagem grosseira?


O Fotoshop teria morto Bin Laden? Esta informação está ofuscando a festa nos EUA neste momento, poucas horas depois do anúncio da morte do terrorista mais procurado e odiado do mundo. Enquanto os americanos vão às ruas para festejar a sua vingança, dez anos depois das atrocidades de 11 de setembro de 2001, esta grotesca montagem fotográfica, feita há mais de seis meses, está sendo usada para divulgar a morte de Bin Laden. Barak Obama vai ter que fazer bem mais do que um discurso vitorioso. Ele vai ter que aparecer com o cadáver da sua presa. Senão, a sua alegria vai durar menos do que um simples sorriso de canto de boca.

Discurso correto, prática equivocada


Na sua tradicional mensagem de Páscoa – que tem o nome de Urbi et Orbi, À cidade (de Roma) e ao mundo –, o Papa deixou uma palavra de esperança às “comunidades que estão sofrendo uma hora de paixão, para que o Cristo ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça e da paz”.

Bento XVI referiu-se aos milhões de refugiados que saem de “diversos países africanos e se vêem forçados a deixar os afetos dos seus entes mais queridos” e apelou à “solidariedade de todos”, ou seja, da Europa, no acolhimento aos refugiados. O papa alertou em sua homilia para as “situações dolorosas” que atingem a humanidade, em especial a “miséria, fome, doenças, guerras e violências”, desejando soluções de justiça e de paz para as mesmas.

No mesmo dia do pronunciamento do Papa, a polícia do Vaticano queria expulsar 150 ciganos romenos que se instalaram na Basílica de São Paulo Extramuros, que é território do Estado do Vaticano. Eles haviam sido desalojados de um acampamento ilegal em Roma, que foi desmantelado no bairro de Casal Bruciato, na capital italiana. Depois de perambular sem rumo pela cidade, buscaram abrigo em dois pavilhões que servem de armazém ao lado do claustro em que estão os restos mortais do Apóstolo Paulo.

A polícia papal, neste caso, faz o jogo do prefeito de Roma, o político de direita Gianni Alemano, que ofereceu uma “ajuda humanitária” aos ciganos romenos para voltarem ao seu país de origem, com o argumento de que “Roma não pode transformar-se numa grande cabana. Essas famílias têm casas em seus países de origem e só estão aqui para ganhar uma grana”.

Como apenas 16 famílias haviam aceito a oferta de dinheiro da prefeitura, a polícia do Vaticano garantia que as mães que saíam para fazer compras no mercado não pudessem mais entrar nas dependências ocupadas. Essas mães, impedidas de voltar a cuidar de seus filhos dentro do complexo religioso, tiveram que atirar a comida através das vigas.

DEPOIS DE WORMS, A CAÇADA A LUTERO

No último dia da Dieta de Worms, 26 de maio de 1521, já sem a presença de Lutero, foi decretado o Édito de Worms. O documento fora redigido ...