segunda-feira, 2 de abril de 2012
Entrada nada triunfal
Ontem lembramos o início de uma semana decisiva na vida de Jesus. Desde a sua entrada “triunfal” em Jerusalém até o domingo de Páscoa, uma série de acontecimentos vai construindo uma história paradoxal e reveladora. Ao longo desses oito dias vai sendo construído o álbum de fotografias da essência divina e humana. De certo modo, é uma história de sucesso às avessas. O anticlímax é o escopo desta semana, que a cristandade convencionou chamar de “via crucis”.
O primeiro dia da semana já começa com um acontecimento revelador. O que se conhece por entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é, na realidade, um irônico teatro do mais puro deboche.
Que entrada “triunfal” é essa, em que o rei vem montado num jegue? Qual é o triunfo de quem chega assim? Seu séquito real é formado por um bando de gente maltrapilha e eremita. Segue Jesus por toda parte, à espera de um milagre. Que recepção é essa em que um grupelho de gente simples e sem importância vai estendendo suas roupas pelo chão, simulando um tapete vermelho? Que civismo fanfarrão é esse em que ramos assumem o lugar de bandeirolas de um reino fictício e inverossímil? Que gritos e ovações são aquelas, com aspecto de coro de zombaria e chacota?
Um rei devia vir num puro sangue. Um séquito de gente importante, lanceiros e espadachins, ministros e serviçais, soldados e guerreiros o acompanhariam. O tapete vermelho seria do melhor tecido e feito pelas mãos dos melhores tecelões. O caminho seria marcado por grossas cordas douradas e guardas deviam impedir que o populacho se aproximasse demais. Brilho, clarins e confetes anunciariam a sua passagem. Sacadas e parapeitos repletos de súditos extasiados gritariam o seu nome sem parar.
É cenário do mais puro anticlímax. Essa recepção já é o prenúncio do que espera por Jesus naquela semana. Nunca digeri muito bem algumas celebrações de domingo de ramos que querem transformar num evento glamoroso a entrada de Jesus na cidade que o entrega à morte.
A chegada de Jesus e de seus discípulos à metrópole em festa é uma macabra metáfora para a semana que se anuncia. “Se você é rei, então se prepare para ser coroado”...
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