quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Passado glorioso e ressaca no poder


Em meio a uma crise interna e crescente rejeição por acusações diversas de desmandos no poder, o Congresso Nacional Africano comemorou um século de sua existência na África do Sul. De passado glorioso e um currículo que inclui o fim do apartheid no país, o CNA é o mais antigo movimento de libertação do continente africano. As festividades do centenário do maior partido sul-africano foram na pequena cidade de Bloemfontein, e culminaram no dia 8 de janeiro, data da fundação.

Sem a presença de seu maior ícone, o ex-presidente e Nobel da Paz Nelson Mandela, a festa não teve o brilho merecido. Cada vez mais frágil, aos 93 anos, Mandela apareceu em público pela última vez na abertura da última Copa do Mundo de futebol, em 2010. Sua ausência foi compensada com a presença de diversos outros ícones que brilharam no colar de pérolas do CNA, inclusive vindos de outros países africanos cujos movimentos de libertação se inspiraram na bem-sucedida trajetória dos combatentes do apartheid. A festa reuniu mais de 100 mil filiados e simpatizantes do CNA.

A maior conquista do CNA foi a derrocada da opressão da maioria negra da África do Sul pela minoria branca no poder, uma luta de décadas. A vitória final veio pelas negociações de Mandela junto ao regime racista, com as primeiras eleições democráticas no país, ocorridas em 1994. Desde então o CNA governa o país com esmagadora maioria e crescentes acusações de sofrer desvios por causa do poder que ocupa. O atual presidente sul-africano Jacob Zuma, também eleito pelo CNA, falou na festa por uma hora e meia, sem citar a crise do partido e as acusações que vem sofrendo.

Internamente, há um conflito de poder entre as atuais lideranças do partido. No governo, há cada vez mais acusações de corrupção e de desmandos no poder. Além disso, os críticos acusam o CNA de não fazer suficientes esforços para combater a pobreza, nem de ter se empenhado para ampliar a integração entre negros e brancos. Segundo a ONU, mais de 30% dos sul-africanos vive abaixo da linha de pobreza. O próprio presidente é acusado de falastrão e tem a pecha de incompetente.

Tudo isso, entretanto, não apaga a magistral história de conquistas do CNA, uma lição de vida e de libertação para todos os povos do planeta. Fundado no dia 8 de janeiro de 1912 num templo metodista em Waaihoek de Bloemfontein por médicos e advogados negros como o “Congresso Nacional dos Nativos da África do Sul”, o movimento recebeu o nome de CNA em 1923.

Nelson Mandela foi cofundador da facção rebelde do CNA e, apesar de permanecer preso por 27 anos na prisão de Robben Island, contribuiu decisivamente nos anos 80 para eliminar o apartheid de modo pacífico. Em 1994 ele tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul e implantou um brilhante processo de conciliação nacional pós fim do regime racista, colocando frente a frente vítimas e algozes e promovendo o perdão e a aproximação. Embora o CNA seja protagonista nessa conquista, ainda falta muito para que esta gigantesca ferida sare e a integração entre negros e brancos seja plena e conquiste justiça social para a maioria negra.

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