sábado, 15 de outubro de 2011

Aquele que "professa"


Hoje é Dia do Professor e da Professora. Assim mesmo, com letra maiúscula. E quanto mais eu mergulho em pequenos e grandes lances do passado imigrante da nossa gente, mais me convenço de que esquecemos alguns dos principais valores de nossos antepassados. Um deles é o da valorização das pessoas que têm a tarefa de repassar as lições mais importantes às futuras gerações.

O professor tinha uma posição de reconhecido destaque nas nossas colônias de imigrantes e, em diversos anais da história está registrado que nessas colônias havia um professor bem antes de um pastor. Mais, em muitas delas era o professor que fazia as vezes do pastor, porque este era um profissional raro e caro. Muitos professores até foram nomeados curas nessas colônias do interior.

Esta é uma herança inconteste do pensamento do Reformador Martim Lutero, que deu aos mestres um destaque e valorização inéditos, elevando a educação a prioridade absoluta. A conta de Lutero era simples e direta: um povo ignorante e analfabeto não tem condições de ler a Bíblia. Assim sendo, ensine-se ao povo a leitura e ele conhecerá a Palavra de Deus. E com essa conta simples ele lançou a Europa na era do Iluminismo e do Conhecimento que transformou o mundo em algo nunca antes visto. Vieram as grandes descobertas e o conhecimento humano aflorou em todas as ciências, trazendo desenvolvimento nunca visto. Essa dimensão do gesto simples de Lutero de incentivar a alfabetização é de uma importância gigantesca. Tudo erguido em cima da valorização do professor.

Hoje, porém, nem professor, nem pastor são tratados com a atenção e o respeito de outrora. Não que devam ser destacados como pessoas diferentes das outras, mas, especialmente no caso dos professores, pela nobreza de sua atribuição. Entretanto, como em nossa sociedade consumista hedonista tudo é valorizado apenas pelo que vale como recurso financeiro, o professor vale o quanto lhe pagam. E, reconheçamos, é uma verdadeira bagatela. Na outra extremidade, exige-se cada vez mais dele, em termos de formação e de rendimento.

Do ponto de vista etimológico, a palavra “professor” tem uma interessante relação com o verbo “professar”, que também declina a palavra “profissão”. Infelizmente, a profissão foi transformada num simples modo de “ganhar a vida”, o sustento e, mais rasteiro ainda, o modo pelo qual conquistamos os muitos bens de consumo com os quais nos exibimos qual pavões uns diante dos outros. Que pena! Professar tem um intransferível significado religioso. Professar é realizar aquilo em que você põe fé, fazer aquilo no que você acredita. Este devia ser o sentido último de qualquer profissão. E este, certamente, é o mais profundo significado do termo “professor”, aquele que “professa”, que põe fé nas lições que repassa.

Nesse sentido, no dia de hoje, nada mais justo do que render reverência aos “professores”, àqueles que “professam”, ou seja, acreditam nas lições que nos transmitem. E precisamos fazê-lo como sociedade, exigindo que a função receba um mínimo de respeito e valorização. Porque, em continuar-se no desastroso rumo que estamos seguindo, fatalmente chegará o dia em que não haverá mais quem “professe”, e as lições mais importantes somente estarão a esperar por nós nos arquivos do Google.

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