sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Igreja movida a testosterona

Algumas das pastoras e diáconas da IECLB que atuam em paróquias do Norte de Santa Catarina.

Ainda há muita coisa a ser feita no que diz respeito à liberação das mulheres e na conquista de igualdade de direitos em relação à metade de homens da humanidade. Enquanto para nós luteranos é normal ter bispas no mundo todo – já tivemos uma pastora sinodal aqui mesmo na IECLB – e temos pastoras atuando no ministério com ordenação em muitas de nossas paróquias, muitas igrejas irmãs têm uma verdadeira guerra em torno da implantação do sacerdócio feminino.

Nem falo da igreja católica romana, que deve levar ainda muitos anos – talvez décadas ou séculos – até livrar-se daquela monarquia de machos, com seu patriarcalismo arcaico. Com tristeza, olho para a nossa irmã luterana, a IELB, que encara a nossa abertura para o sacerdócio feminino como um excesso de liberdade luterana, sendo este um dos principais empecilhos para a comunhão luterana plena.

Mas recebi com profunda decepção a notícia de que os presbiterianos do México levaram a votação em assembleia a decisão de aceitar o sacerdócio feminino ou não, e tomaram uma decisão que os lança diretamente no colo do arcaísmo romano mais degradante. Segundo a agência de notícias ALC, com uma votação acachapante de 158 votos contra 14, a Assembleia Geral da Igreja Nacional Presbiteriana do México (INPM), reunida nos dias 17 a 19 de agosto em Xonacatlán, rejeitou a ordenação de mulheres ao sacerdócio.

Veja bem, não houve uma diferença razoável de 40% versus 60%. Nem foi uma diferença de um terço contra dois terços. A votação foi tão esmagadora quanto só mais de 91% consegue ser! Isso é quase uma unanimidade. E, nesse caso, a unanimidade não é somente burra como é uma gigantesca violência contra metade da Cristandade; a metade feminina, bonita, inteligente, capaz e tão filha de Deus quanto a arrogante metade de homens que, incrivelmente, ainda pensa como na idade média, quando só os homens recebiam herança, acreditando que somente machos herdarão o Reino dos Céus.

Incrivelmente, é mais um caso de interpretação fundamentalista da Bíblia. Diversos delegados alegaram que as ordens bíblicas não incluem a possibilidade das mulheres serem ordenadas e outros, mesmo admitindo que Deus possa chamar mulheres para o seu serviço, prenderam-se na “inexistência de textos bíblicos que justifiquem o ministério feminino”.

O debate foi tão medieval que nem mesmo o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” da Revolução Francesa escapou, uma vez que houve uma absoluta rejeição aos avanços democráticos e sociais dos princípios expressos por ela, que foi qualificada como “movimento apóstata” que introduziu perniciosamente o conceito e a prática da emancipação das mulheres.

Os vitoriosos da igreja contaminada por ares de porão de masmorra medieval manifestaram descontentamento com os poucos que ousaram voltar ao tema já banido pelos concílios de 1980 e 2006 dos presbiterianos mexicanos. Agora exigem “mão de ferro” para os que não cumprirem as diretrizes aprovadas na Assembleia, dizendo que é tempo de tomar medidas disciplinares sem concessões. Com 102 votos a favor da medida, a Assembleia determinou que presbitérios e igrejas que ordenaram mulheres anulem, de imediato, tais medidas. A decisão dos mexicanos levou ao rompimento com a comunhão presbiteriana mundial, que ordena mulheres, especialmente a dos EUA.

3 comentários:

  1. Parece que a onda de conservadorismo e fundamentalismo deu mais uma prova de seu poder sobre tudo que é releitura responsável.
    O que nos falta não é apenas uma recitação de textos bíblicos e confessionais, mas uma releitura responsável inspirada pelo espírito e a intenção de textos bíblicos e confessionais para dentro de nossa realidade. Que Deus nos ajude para tanto!
    Günter Wehrmann

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  2. Pois é.... espero que esta turma de pastores busquem inspiração num texto como Gl 4.19 onde o apóstolo (homem) se compara a uma mulher em dores de parto . . . (um homem dando à luz uma comunidade - isto me soa como uma transgressão de gênero). Lamentavel esta decisão dos Presbiterianos.
    Alexandre Busch

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  3. Inês Cleonice Schmitt4 de outubro de 2011 às 18:06

    Mas quem foram os eleitores, no mínimo homens,e com certeza, dos fracos, que tem pavor que uma mulher possa ser melhor no que faz do que ele, daí como tem poder de voto ele v ota contra. Mas eu não acho que Cristo disse algo contra nós mulheres, e eu sou CRISTÃ embora fazendo parte de uma denominação, com tais preconceitos

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