Tela do novo vídeogame "Left behind", baseado numa série de livros, filmes e programas fundamentalistas sobre o Apocalipse e o Juízo Final.
Um artigo do jurista e escritor espanhol Gustavo Vidal Manzanares, publicado no site Lupa Protestante, ilumina com luz brilhante a relação escatológica por trás do apoio dos evangélicos norte-americanos a Israel. O triste resumo de toda essa ópera bufa é apressar o Juízo Final. Exatamente! A crença de que Cristo voltará no dia em que Israel estiver reunido na Terra Prometida é o “princípio teológico” por trás do apoio incondicional das igrejas evangélicas dos EUA a tudo que Israel faz no Oriente Médio. Segundo esses cristãos – que lamentavelmente também são a maioria dos políticos no poder nos EUA –, é tudo desígnio de Deus. Veja você mesmo, no texto delicioso de Manzanares, que você pode ler também em espanhol aqui. Para facilitar, traduzi e publico abaixo:
Sem dúvida, muitos na Europa ignoram a conexão entre este terror judeu e a igreja evangélica. De um lado, esta direita “cristã” fundamentalista, incrustada nos núcleos de poder dos EUA, já há tempos tem empreendido uma batalha assustadora contra a racionalidade e a ciência. Poderosos lobbies religioso-financeiros têm declarado a guerra ao pensamento científico ao mesmo tempo em que alimenta os demônios da superstição e do pensamento delirante.
Por exemplo, ignora-se que, entre os livros mais vendidos nos EUA estão as doze novelas da série apocalíptica “Left behind” (Deixados para Trás). Em suas páginas, baseadas numa interpretação literal da Bíblia, se descreve “o fim próximo dos tempos”, quando Cristo, “como um ladrão na noite”, irá arrebatar os seus. Os não-abduzidos – ou seja, os maus – sofrerão de modo espetacular num planeta açoitado por pragas mil.
Finalmente, após tribulações sem maiores riscos, Cristo virá, desta vez de modo oficial, e reinará durante um milênio, depois do qual se restabelecerá o Reino de Deus para sempre... Pois bem, milhões de norte-americanos professam estas crenças e, acreditem vocês ou não, isto condiciona importantes decisões econômicas e políticas. Entre elas, a postura em relação a Israel.
Para que tenhamos uma idéia, o autor daqueles abortos literários, Tim LaHaye, é um ativista neoliberal (como não!) que fundou, junto com o telepregador Jerry Falweel, um lúgubre lobby, “A maioria moral”, a partir do qual defende a substituição da Constituição pela Bíblia, para converter os EUA numa teocracia.
E o que tem a ver o terrorismo israelense com tudo isso? – perguntará o leitor. Pois lamento assustá-lo, mas constituem assuntos intimamente conectados. Segundo as crenças do poderosíssimo lobby evangélico, Jesus Cristo não pode vir até que Israel tenha ocupado as “terras bíblicas”.
Deste modo, pressionam os governos e regam de dólares os corredores de Washington e dos meios de comunicação para “ajudar Israel”. Se Israel tem que massacrar, invadir, destruir casas... é a Bíblia, amigos.
No torvelinho dessa loucura, se Israel não ocupar o Oriente Médio, a agenda do apocalipse irá atrasar-se. Em conseqüência eles, os bons, os “cristãos” (e neoliberais, obviamente) perderiam a visão de Jesus Cristo descendo dos céus para abduzi-los e, depois, julgar os maus (gays, livres pensadores, esquerdistas, etc.) “com fogo e espada”.
E os fundamentalistas “cristãos” (numerosíssimos e muito influentes nos EUA) não desejam perder o programa das sessões apocalípticas integrados à segunda vinda de Jesus Cristo “que todo olho verá”, a batalha do Armagedão contra o anticristo e, obviamente, o “choro e ranger de dentes” dos pecadores. Porém, por Deus!, essa programação se postergará se Israel não ocupar todo o Oriente Médio, as “terras bíblicas”. Um desastre.
Pensam que estou fazendo piada? Antes fosse! É nisso que acreditam milhões de pessoas nos EUA, e tal fé evangélica decide eleições a presidente, governador ou presidente do congresso, condiciona agendas políticas e econômicas e, desgraçadamente, nos atinge também.
Não quero aterrorizar o leitor (eu já estou bastante assustado) relatando o poder que a igreja evangélica acumula nos EUA e que se acentuou na época de Bush. Antes, deve servir para preservar o resto de racionalidade que ainda desfrutamos na Europa. E, por isso, não permitir que aqui o fundamentalismo religioso avance um milímetro.
Não duvidemos, o império da razão, o verdadeiro amor ao próximo, o secularismo, o livre pensamento e o relativismo não são simples opções nestes tempos... fazem parte do nosso kit básico de sobrevivência diante de tantos fanáticos e mal intencionados.
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