Pelos 90 anos de D. Paulo Evaristo Arns, esta foto histórica em que ele aparece cumprimentando o ex-pastor sinodal Nelso Weingärtner e ambos exibem suas cruzes episcopais, num gesto repleto de sincero ecumenismo e marcado pela alegria de dois bem-sucedidos filhos de colono que se tornaram marcos em suas igrejas.
A presidenta Dilma Rousseff divulgou nota cumprimentando dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, pelos seus 90 anos, completados ontem, 15 de setembro. A ex-prisioneira política e torturada homenageou o pastor que aterrorizou a ditadura militar, ao visitar os “porões do regime”, viajar para Roma e relatar em entrevistas o que via.
Dilma lembrou o “sacerdote que, num momento crucial da vida política do nosso país, foi um facho de luz e de esperança para todos os brasileiros que não se conformavam com o regime de arbítrio e as perseguições políticas, e sonhavam com um Brasil livre e mais justo socialmente”, agregou.
A nota da presidência enfatiza que ele “empregou suas energias na batalha pela liberdade, na defesa dos direitos humanos, acolhendo e protegendo os perseguidos pela ditadura, na ajuda ao povo pobre, em prol de seus direitos de cidadania, e no combate às desigualdades sociais”, afirmou a maior mandatária do país.
Destacou ainda que o líder religioso católico da maior diocese brasileira, à época, “defendeu os líderes sindicais nas greves, deu apoio decisivo aos movimentos contra a alta do custo de vida, contra o desemprego e pelas eleições diretas”, deixando um legado de resistência, firmeza e determinação.
Arns tinha consciência desde a infância de ser filho de trabalhador rural. “Papai é colono, e você, mesmo depois de estudar muito, sempre será filho de colono e de seu povo”. O menino cresceu, foi ordenado padre aos 24 anos e ainda estudou por 12 anos, até ser doutor pela Universidade de Sorbonne, na França, sem esquecer quem era e o povo de onde vinha.
Defrontou-se com as marcas das atrocidades na Europa, com a desigualdade social do pós-guerra, e com a realidade dos que lutaram contra a intolerância nazista. Isso foi fundamental para lidar com o país em pleno crescimento da ditadura, numa capital sem cor nas paredes e na alma de seus habitantes, que empurrava à periferia os migrantes de todo o país, em 1966.
Com os avanços teológicos do Concílio Vaticano II, buscando resposta às mazelas da realidade, esforço que fez surgir a Teologia da Libertação – com a opção preferencial pelos pobres e a consciência das massas – o bispo auxiliar vindo de Petrópolis seria guindado à Arquidiocese em apenas quatro anos, determinado a enfrentar a opressão, sem esmorecer com a repressão na periferia e nem com a invasão da Pontifícia Universidade Católica da capital paulista.
ALC
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