sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fachadas com grifes ocultam bastidores perturbadores

Anúncio de 1933 oferece uniformes “de chuva, de esporte e de trabalho” produzidos pela grife Hugo Boss.

O mundo da moda está meio decaído ultimamente. No caminho inverso das tendências em termos de comportamento, algumas grandes marcas preferem ir contra tudo o que se conquistou hoje no plano do politicamente correto.

Primeiro foi John Galliano, e suas declarações bombásticas e canalhas sobre os judeus. A sua boca custou-lhe o milionário emprego na Dior e o generoso espaço que ocupava na vitrine mundial da moda. Ele já falava muito sob flashes e holofotes. Mas, embriagado, disse um monte de bobagem e lhe cobraram a fatura.

Depois veio a história da Zara e seu “inocente” envolvimento com trabalho escravo no Brasil. Os chefões da rede espanhola de lojas de roupas de luxo estão por aqui, tentando apagar um incêndio que pode significar o fim da Zara em solo brasileiro. Até no Congresso eles estiveram, para justificar, de modo envergonhado, que a Zara negociou roupas confecionadas por ilegais bolivianos trabalhando em troca de esconderijo e comida, fazendo roupas a menos de dois reais a peça. Depois que tudo veio à tona e do modo como se revelou, fica difícil acreditar que a chefia não sabia de nada.

Ontem, explodiu outro escândalo. Desta vez, na Alemanha, envolvendo nada menos do que Hugo Boss, uma das mais famosas marcas de luxo de moda, jóias e perfumes do mundo inteiro. A grife de roupas alemã Hugo Boss admitiu que o criador da marca, Hugo Ferninand Boss, apoiou o líder nazista Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. O apoio a Hitler salvou a empresa pré-falimentar de Boss, que passou a produzir os uniformes do alto escalão do nazismo e do exército alemão. Além disso, a empresa pediu desculpas pelas pessoas que sofreram maus-tratos em sua confecção no período do terror nazista.

Segundo o Opera Mundi, a revelação do passado nazista da Hugo Boss foi feita pelo historiador Roman Koester, que acabou de lançar o livro Hugo Boss, 1924-45, autorizado pela companhia alemã. Logo após a divulgação das informações, a grife emitiu um comunicado se desculpando e ressaltando seu “mais profundo pesar com aqueles que sofreram danos durante trabalhos forçados na empresa de Hugo Ferdinand Boss”.

Segundo a obra, Boss ingressou no Partido Nacional Socialista em 1931 e os pedidos por uniformes do partido salvaram sua fábrica da falência. Koester aponta que a Hugo Boss empregou 140 mulheres em regime de trabalhos forçados. Outros 40 prisioneiros de guerra franceses trabalharam para a companhia de outubro de 1940 a abril de 1941.

Os documentos que serviram de base para a obra foram em sua maioria disponibilizados pela própria Hugo Boss, e demonstram que seu fundador era um nazista convicto, que não somente apoiou o partido, já que conquistou diversos contratos para a produção de uniformes militares, mas estava totalmente integrado ao movimento político. O historiador disse que a ideologia do Terceiro Reich foi “assimilada profundamente pelo proprietário da empresa, tanto que as condições de trabalho dos próprios trabalhadores eram trágicas”. Após a Segunda Guerra Mundial, Hugo Ferdinand Boss foi processado e multado por sua participação no nazismo. O estilista morreu em 1948.

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