quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Ora veja, a Veja de novo
A revista Veja envergonha, mais uma vez, o bom trabalho jornalístico. Pior, atropela a lei e repete no Brasil, de modo atabalhoado, a triste história do tablóide britânico News of the World e seu chefão Rupert Murdoch. Ou seja, vale qualquer negócio para queimar quem é considerado inimigo da publicação. Veja esta história de Veja com o seu mais conhecido desafeto, José Dirceu. Seria divertido se não fosse imoral, ilegal e absolutamente inacreditável. Veja o que fez a Veja:
Fonte: Carta Capital (29 de agosto)
Uma conspiração contra o governo Dilma estaria sendo empreendida em um quarto de hotel em Brasília pelo ex-ministro José Dirceu, segundo a reportagem de capa da última edição da revista Veja. Fotos em preto e branco mostram o ex-chefe da Casa Civil e algumas figuras do cenário político do Governo Federal nos corredores de hotel onde o ex-ministro se hospeda. Encontros teriam sido feitos com o ex-ministro ao longo do último semestre, acompanhando a crise e sucessão de escândalos que se instaurou no Planalto desde as primeiras denúncias sobre o ex-ministro Antonio Palocci.
Mas a apuração acabou tornando-se caso de polícia. Um Boletim de Ocorrência foi aberto na Polícia Civil do Distrito Federal para apurar a denúncia de tentativa de invasão do quarto do ex-ministro pelo repórter Gustavo Nogueira Ribeiro, da revista Veja. Na quarta-feira 24, o jornalista, afirma Dirceu, tentou convencer uma camareira que estava hospedado na suíte do ex-ministro e que havia esquecido as chaves. A camareira não acreditou na história e comunicou a direção do hotel.
No mesmo dia, o ex-ministro foi informado do evento. Em nome do segurança Gilmar Lima de Souza, o episódio foi comunicado à Polícia Civil e está sendo investigado. A direção do estabelecimento afirmou, em entrevista ao blog Viomundo, que que as imagens veiculadas pela revista provavelmente não vêm do circuito interno do hotel. Se comprovado, indicaria que a revista utilizou câmeras escondidas para conseguir as imagens.
A reportagem afirma que personalidades políticas como José Sérgio Gabrielli, Fernando Pimentel, Lindbergh Farias, Devanir Ribeiro, Cândido Vaccarezza teriam procurado o petista para aconselhar-se. O conteúdo das conversas não é divulgado pela matéria; José Sérgio Gabrielli, por exemplo, apenas diz que é amigo do ex-ministro e que não iria comentar o encontro.
“Sou cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário. Essas atribuições me concedem o dever e a legitimidade de receber companheiros e amigos, ocupem ou não cargos públicos, onde quer que seja, sem precisar dar satisfações à Veja acerca de minhas atividades”, explica Dirceu em seu blog. O ex-ministro será julgado, junto com outros réus do caso do Mensalão de 2005, possivelmente no início de 2012. Reinaldo Azevedo, blogueiro e espécie de leão de chácara da publicação, afirma que o episódio mostrado pela Veja mostra que o ex-ministro continua com as mesmas práticas que foram denunciadas no escândalo do Mensalão.
Parceiro de Dirceu acusa jornalista de tentar entrevistá-lo usando outra identidade
Por tabela, o advogado Hélio Madalena acabou se envolvendo na história. Isso porque seu escritório Tessele e Madalena é quem paga e registra o quarto no hotel de luxo, utilizado por Dirceu quando este vem a Brasília. Em entrevista a CartaCapital, Madalena explica que tem um acordo de cooperação técnica com Dirceu. Quando este vai a Brasília, utiliza recursos pagos por Madalena. O mesmo ocorre quando Madalena vai à São Paulo. “Esse acordo prevê a cessão de instalações, logística, infra-estrutura e material humano quando o advogado está em trânsito, ou eu em São Paulo ou ele aqui em Brasília. Isso se chama associação de escritórios, que é um procedimento previsto pela lei e no estatuto da ordem”, diz ele. “Existe um registro disso no hotel, eu que pago. Eu uso a estrutura do escritório dele”. O funcionário Alexandre Simas de Oliveira, tido como cicerone na matéria, também é cedido por Madalena como parte deste acordo.
Segundo Madalena, o jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro teria infringido novamente a lei ao tentar entrevistá-lo, utilizando outra identidade. “O jornalista ligou e se apresentou como assessor do prefeito de Varginha. Entrou aqui e começou a fazer perguntas sobre a gestão financeira da empresa”, conta ele, que acionou a Polícia Civil para investigar o caso. Dirceu afirma que o mesmo recurso teria sido usado em uma segunda tentativa de entrar no quarto onde estava hospedado, como um assessor do prefeito de Varginha que pretendia deixar uns documentos para o ex-ministro.
Madalena também consta como vítima no Boletim de Ocorrência que registrou a primeira tentativa de invasão. Sobre os encontros, o advogado afirma que, apesar de parceiros, cada um tem a responsabilidade sobre a atividade exercida quando atendido pela infra-estrutura alheia. “O ministro é um homem público, uma liderança partidária, tem toda uma vida pública, tem seus amigos, deve recebê-los quando achar por bem recebê-los”, diz.
“Ela vem numa linha Murdoch há muito tempo, agora agiu como polícia política, polícia de exceção. Elege seus alvos. Elege aquele que ela tem como inimigo para destruir”, diz ele sobre a apuração da Veja. Ele acredita que a Veja colocou a câmera aleatoriamente, não descobriu nada e quando a imagem corria o risco de se perder no tempo, virou um “factóide”.
Madalena afirmou que não entrará com um processo contra a revista por causa da tentativa de invasão. No entanto, pensa em processar a revista devido ao conteúdo da matéria. Na reportagem, a semanal afirma que Madalena fazia lobby político no Brasil ao magnata russo Boris Berezovski, um dos réus de ação penal brasileira, na qual há acusações de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro por transações na parceria com o Corinthians.
“Eu não vou entrar em processo, a não ser no caso do russo, que ele levanta uma suspeição, uma injúria, dizendo que eu fazia lobby, quando eu era assessor. No foro adequado, que é justiça, vamos questionar isso”, diz. “To examinando aqui com meu sócios a necessidade de nós, para clientes, amigos, associados, recompor a verdade dos fatos. Eu não tenho nada a ver com o russo. O único lugar que já encontrei com ele foi nas paginas da Veja”, afirma.
Para ele, a invasão ao quarto de Dirceu só não deu certo porque o jornalista estava mal treinado. “A tentativa frustrou-se pelo excesso de trapalhadas. É um aloprado”, diz. Apesar dos problemas, o advogado afirma que continuará alugando a suíte para uso do escritório.
Se comprovadas as denúncias em relação aos jornalistas da Veja, o caso será uma versão brasileira dos escândalos no tablóide News of the World, do conglomerado de Rupert Murdoch. Denúncias de escutas ilegais e práticas anti-éticas de apuração fizeram com que o jornal fosse fechado, repórteres e editores presos, sem contar as possíveis vítimas que as práticas ilegais deixaram no caminho. E seu blog, Dirceu faz a relação: “Os procedimentos da Veja se assemelham a escândalo recentemente denunciado na Inglaterra. O tablóide News of the World tinha como prática para apuração de notícias fazer escutas telefônicas ilegais (…)”.
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