terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Papa é denunciado em Haia


A cristandade está perdendo sua força missionária. Há diversos motivos que podem ser arrolados como causadores. Entre eles, a falta de vocações, a crescente secularização e o descrédito em que foi lançada, graças a posições turronas, irredutíveis e ultrapassadas com relação a diversos temas da atualidade.

Entretanto, no meu entendimento, a cristandade tem cometido seus mais graves erros na falta de coerência, no testemunho fraco e minado dos mesmos pecados de que acusa a sociedade e, acima de tudo no mau testemunho. A lista de exemplos de comportamentos inadequados, desvios de conduta e até de mau-caratismo abundam em toda a cristandade e em todas as igrejas em que se divide. Aliás, a própria divisão da cristandade é um dos piores testemunhos, levantando suspeitas e desconfianças sobre a credibilidade do seu testemunho.

Veja as milhares de vítimas dos sucessivos escândalos de pedofilia na igreja católica, por exemplo. Depois de muitas acusações, gritos desesperados e até processos com pedidos de indenizações que faliram diversas dioceses pelo mundo, finalmente Roma se deu por vencida. O Papa Bento XVI expressou sua vergonha e pediu desculpas às vítimas e à sociedade, prometendo tolerância zero contra os pedófilos. Ele também pediu aos bispos de todo o mundo para que cooperem plenamente com os tribunais criminais, nos casos que estão em julgamento.

Muitos não acreditam nessa súbita “conversão” do Papa. A história até aqui está repleta de atos de ocultação, transferências de despiste e abafa-abafa do “diz que, diz que”. Por isso, não acreditam mais. E todo esse mau testemunho acabou nos tribunais, agora em Haia. Vítimas de pedofilia nos EUA denunciaram o Papa por crimes contra a humanidade e acusam o chefe da Igreja de “ter tolerado crimes sexuais contra crianças”.

Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos anunciou nesta terça-feira 13 de setembro ter apresentado uma queixa ante o Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o Papa Bento XVI e outros dirigentes da Igreja católica por crimes contra a humanidade. Os dirigentes da associação SNAP, orientados pelos advogados da ONG americana “Centro para Direitos Constitucionais”, entraram com uma ação para que o Papa seja julgado por “responsabilidade direta e superior por crimes contra a humanidade por estupro e outras violências sexuais cometidas em todo o mundo”, que teria “tolerado e ocultado sistematicamente”.

Segundo a acusação, que enviou 10 mil páginas de documentação de casos de pedofilia ao tribunal, os bispos e o próprio Vaticano rejeitaram ou ignoraram muitas das queixas das vítimas de padres pedófilos. O escândalo desacreditou a Igreja em vários países na Europa.

O pior capítulo dessa história é que a Igreja – e não somente a católica –, que devia ser o reduto de máxima confiança onde tais vítimas pudessem abrigar-se da violência a que são ou foram submetidas, tem sistematicamente participado, até com lascívia, dos atos de violência, assédio e desrespeito a crianças. Esses pequenos e inocentes aprendizes lhes são confiados para a catequese, para ensinar a trilhar os passos da fé e até para seguir a sublime vocação sacerdotal. Saem de suas mãos acuados, violentados e traumatizados. Enquanto isso, mesmo que seus clamores tenham chegado às pencas ao Vaticano, lá se tem feito ouvidos moucos.

O problema é que – e nem Roma contava com isso – tudo aparece à luz do dia uma hora dessas. Como a Igreja prefere esconder-se na Idade Média, vivendo sob a redoma que criou para si, nem percebeu que vivemos na era do Big Brother, onde tudo é visto, registrado e gravado e, mais dia menos dia, cai nas redes sociais, na conversa do povo, nas barras dos tribunais. Um dia, por certo, tinha que acabar também em Haia.

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